É raro debruçar-me sobre casos de polícia, o que acontece por três motivos. Primeiro porque há quem trate deles melhor do que eu. Depois porque não me deixo envolver em debates comandados por ódios e paixões – dei o que tinha a dar para essa irracionalidade. Finalmente porque aprecio em particular o resultado final das contendas jurídicas, o que conclui – terminado o confronto de inteligências, talentos e capacidades técnicas entre todos os que esgrimem estratégias e argumentos nas salas dos tribunais – se deve haver malandros condenados ou apenas anjos absolvidos.
Mas no não pronunciamento da SAD do Benfica no caso “E-Toupeira”, pareceu-me tão evidente o poder da contra-argumentação da defesa que não resisto a referi-lo. Sabe-se que o Ministério Público vai recorrer da decisão da juíza Ana Peres e que tudo poderá ainda mudar, só que a partir do momento em que Luís Filipe Vieira resolveu contratar aquele trio de trutas da advocacia – como que aconselhado “in extremis” pelos duendes que o visitam de madrugada – fiquei com a convicção de que quem mandava em Paulo Gonçalves não iria a tribunal. Afinal, bastava observar os astros.
A goleada de ontem, na Luz, é o melhor presente de Rui Vitória neste Natal. Ela não só confirma que os jogadores estão com o treinador como constitui um autêntico pontapé na crise de boas exibições benfiquistas. Por outro lado, é um presente amargo para Abel Ferreira e, em simultâneo, uma chamada à realidade: por muito motivador que seja o discurso do técnico, a verdade é que os bracarenses não são por enquanto candidatos ao título. Percorrem o caminho, é certo, mas longa e sinuosa é a estrada.
Pés na terra voltam a ter igualmente os adeptos leoninos mais eufóricos, agora que um embate a doer – com um consistente Vitória, obra de Luís Castro, chapeau! – pôs a nu as fragilidades da sua equipa e as limitações de um plantel que só por milagre poderia permitir grandes voos. Muito foi já feito no pós-delírio, haja lucidez!
No sábado, os jogadores do Manchester United enviaram um cartão de Boas Festas a José Mourinho: depois de várias partidas dececionantes e poucos dias após o despedimento do treinador, foram ao País de Gales aplicar ao Cardiff a primeira “chapa 5” da época. Quem tinha dúvidas quanto aos motivos do insucesso de Mou em mais esta etapa ficou esclarecido em relação a um, talvez ao principal. Quando quem corre não quer, nada feito. E estava agora a lembrar-me de José Peseiro e da provável leviandade com que o seu trabalho foi avaliado… Mas a realidade é que – pelo menos até ao insucesso de Guimarães – o Sporting mudou. Teria mudado sem Marcel Keizer? Hum…
E como voltei a Peseiro: grande atuação de Fábio Coentrão no Dragão. O ex-sportinguista abriu o livro do ponto de vista técnico, jogou 90 minutos e exibiu – até ao fim, Maxi que o diga – a frescura física de que já o julgávamos afastado. Um talento enorme, estupidamente desperdiçado pelos leões!
O último parágrafo vai para Luisão, que disse, a propósito do sorteio da Liga Europa, que “o Benfica estará à altura do Galatasaray”. Referir-se-ia àquela rapaziada turca que, na fase de grupos da Champions, venceu um de seis jogos e perdeu os dois com o FC Porto? Baixa fasquia, Girafa. Depois de ontem, então, parece uma heresia.
Outra vez segunda-feira, Record, 24DEZ18
Luís Filipe Vieira e os duendes da madrugada
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