“A meta é o esquecimento. Eu cheguei antes”. O pensamento, do escritor e poeta argentino Jorge Luís Borges, não podia ser mais claro: quem conseguiu algo de notável, nunca será esquecido
Foi com Carlos Gomes, Costa Pereira, Vítor Damas e Vítor Baía um dos maiores guarda-redes portugueses. Mas só a chamada à Selecção Nacional, em 1965, quando ia a caminho dos 34 anos, o consagraria.
Na década e meia de José Pereira na baliza do Belenenses, vi-lhe defesas – em voo, que por isso o alcunharam de Pássaro azul – das mais extraordinárias a que pude assistir no meu longo percurso de espectador de futebol. E vi-o também sofrer golos de forma infantil, o que fazia com que lhe chamassem Zé dos frangos.
A verdade é que não haveria Magriços em 1966, e portanto não alcançaríamos o terceiro lugar, ainda o nosso melhor resultado de sempre em mundiais, se um ano antes, em Bratislava, então Checoslováquia, não se tivessem cruzado dois génios do futebol: Eusébio, que marcou o golo da vitória (1-0) da Selecção, e José Pereira, que defendeu um penálti e com isso garantiu dois pontos indispensáveis à qualificação.
Um ano após o Mundial, aos 36 anos, José Pereira já não era titular da Selecção e saiu do Belenenses, que o tratou mal e o dispensou, para continuar a jogar, até aos 40 – e com exibições memoráveis que a imprensa registou – no Beira Mar.
Zangado com o clube que o desprezou, com os jornalistas e com o País, partiu com a mulher para Barcelona, onde há dias terá completado 83 anos. Tentativas para o descobrir nunca resultaram, os amigos perderam-lhe o rasto, o magriço esquecido não perdoou. A amargura ficou-lhe para o resto da vida.
De Torres Vedras a Barcelona e uma vida para recomeçar
Nascido em Torres Vedras, a 15 de Setembro de 1931, José Pereira foi 11 vezes internacional, ganhou uma Taça de Portugal e foi vice-campeão nacional, em 1955, tendo sofrido, a quatro minutos do final do Belenenses-Sporting, nas Salésias, o célebre golo de Martins que deu o título ao Benfica. Em 1972, quando abandonou o futebol, foi viver para o apartamento que comprara em Barcelona e montou um negócio. Nunca mais voltou.
Parece que foi ontem, Sábado, 25SET14
José Pereira, o Magriço que não perdoa
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