São 24 títulos na carreira, 10 em Inglaterra e dois no Manchester United em poucos meses. José Mourinho viveu ontem mais uma tarde de sucesso, que celebrou à sua maneira: semblante carregado, supostamente chateado com alguém ou apenas com o Mundo, hesitante na subida à tribuna, rosto fechado a expressões de alegria. Mou leva-se demasiado a sério e vê talvez o sorriso como uma fraqueza, uma fresta no manto com que tapa os sentimentos mais profundos, que guarda ciosamente para os seus.
O treinador português tem essa personalidade, pelo que a obtenção de mais um êxito – numa época em que tudo começou por correr mal e, todavia, aos dois títulos há já que somar o regresso à luta pelos lugares cimeiros da Premier e a excelente campanha na Liga Europa – não ofusca, nem consegue fazer-nos esquecer a sua bela atitude de solidariedade com Claudio Ranieri, o amigo que o Leicester despediu meses depois de se tornar campeão graças à sua liderança. Nessa tomada pública de posição, Mourinho expôs o que escondeu ontem: a sua dimensão humana. Uma grande vénia por isso.
Saúdo também o mexicano Miguel Layún, que protestou numa rede social – com resultados positivos imediatos – pela estúpida ideia do “criativo” de uma loja de brinquedos do Porto, que ergueu uma barreira a simular o muro que o presidente-clown quer construir. O futebolista que não vê, não ouve e não fala, agoniza. Tempos de esperança.
Canto direto, Record, 27FEV17
José Mourinho: uma vénia nem só pelos 24
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