Ontem, depois de ver a jogada de Carlos Mané e o centro perfeito que resultou no golo do Rio Ave, não estaria só quando pensei: o Sporting deve ter lá melhor para se ter dado ao luxo de dispensar este rapaz. Aliás, os leões acabaram por ficar com um plantel desequilibrado e a aterragem de pára-quedas em Alvalade, no último dia de contratações, de três jogadores emprestados, em simultâneo com o despedimento do treinador – que veio de planeta distante, sim, mas que viveu permanentemente debaixo de um vulcão – é mais um sinal de que o filme que o dr. Varandas está a realizar pode vir a não ter final feliz.
Deixo de parte os outros dois, que talvez mereçam o benefício da dúvida, e dirijo o foco a Jesé Rodríguez. Recordo a esperança que nele depositou o Real Madrid, no início da década, as oportunidades que lhe deu Mourinho, na temporada de 2011-2012, e a sua “devolução” ao Castilla, na época seguinte. Ancelotti e Benítez proporcionaram-lhe depois mais minutos, mas Jesé – a quem alguém chamou “novo Ronaldo” (!)… – queria ser vedeta e aceitou, em 2016, a transferência para o Paris Saint Germain, um cemitério para os inadaptados – que o digam Gonçalo Guedes, que escapou por um triz à câmara ardente, ou Neymar, que pagava para se vir embora e teve de ficar.
Erro de casting no PSG, o avançado foi então emprestado ao Las Palmas, clube da cidade que o viu nascer, há 26 anos, ao Stoke City e ao Bétis, numa sucessão de fracassos: em nenhum dos emblemas atuou em 20 jogos, por nenhum marcou mais de três golos… E a tudo isso há a juntar o crescente protagonismo de Jesé nas revistas cor de rosa, com as paixões centradas na “dolce vita”, nas suas polémicas e desgraças.
É esta promessa adiada – como Vietto, mas aparentemente com menos possibilidades de “regeneração” futebolística – que o Sporting recebe, de presente envenenado, sobre o fecho do mercado. Como sempre me acontece nestes casos, não faço votos por estar certo, ao contrário, gostaria de me enganar, e que o Jesé que chegou a arrebatar o Bernabéu pudesse agora animar Alvalade – que bem precisa!
O parágrafo final vai para Ruben Guerreiro, ciclista de 25 anos, que está a rubricar um enorme desempenho na Volta a Espanha. Na dificílima etapa de ontem foi segundo e subiu a 16.º na classificação geral, apenas a 26 segundos do 14.º. A primeira participação do nosso homem numa prova do Grand Tour é de tal forma relevante que poderá mesmo ultrapassar o melhor resultado de Rui Costa nas suas 11 presenças nas três míticas competições: 18.º na Volta a França, em 2012. Será Ruben o ciclista que falta a Portugal para brilhar nas corridas de três semanas? Hoje, se não o traírem as pernas nas terríveis subidas até ao Alto de La Cubilla, pode entrar no top 15 da Vuelta…
Outra vez segunda-feira, Record, 9set19