Alexandre Pais

JE Bettencourt: um presidente que cai de pé

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Ao lado de José Eduardo Bettencourt, no camarote da presidência, em Alvalade, no último sábado, os olhos de Paulo Bento saltavam do relvado para a cobertura do estádio sem saberem onde poisar. A sua expressão, em que se misturavam a incredulidade e o desconforto, revelava tudo: como ele desejaria não estar ali naquela altura e como podia e devia ter continuado lá em baixo…

Não tenho qualquer dúvida de que o selecionador nacional tem hoje muito melhor vida – e enfim a sua tão proclamada “tranquilidade”… – longe dos problemas que assolam os leões como um furacão cujos estragos sabemos que serão enormes sem que possamos prever como e quando irão terminar.

Mas estou ainda mais certo do erro que cometeu o Sporting ao permitir que uma dúzia de “anormais” – e utilizo apenas a designação que o próprio Bettencourt lhes dava quando anunciava tê-los referenciados e prometia combatê-los – dessem início a um processo de contestação pela contestação que levou Paulo Bento a verificar não ter mais condições para continuar a trabalhar. E que queriam, afinal, esses reclamantes compulsivos? Acabar com a “vergonha” de quatro segundos lugares consecutivos? Pois veja-se o lindo serviço que arranjaram.

Curiosamente, Bettencourt demitiu-se não só no seguimento de mais uma derrota – em boa verdade, nascida do “charuto” de uma vida e de um penálti inventado pelo árbitro –, como de mais um inqualificável chorrilho de insultos proferidos, por certo, por muitos dos “anormais” que jurara barrar.

O presidente dos leões cai de pé. Cometeu erros na gestão desportiva mas mostrava ter aprendido com eles e dispunha de todas as condições – exceto, talvez, as financeiras – para emendar a mão e salvar o projeto. E tinha, além disso, num mundo de burgessos e trapaceiros, uma imagem e uma postura que honravam o Sporting. Dava gosto olhar para aquele camarote e vê-lo lá.

Só espero que os adeptos leoninos encontrem melhor e não lhes aconteça o mesmo que com Paulo Bento: quando torcem a orelha, já não deita sangue.

Minuto 0, publicado na edição impressa de Record de 18 janeiro 2011

Por Alexandre Pais
Alexandre Pais

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