“Os seus amigos recordarão um dia o muito que ele nos fez rir” – António Alçada Baptista (1927-2008), escritor, sobre Fernando Oneto, no diário O Dia
Afonso Cautela, António Ribeiro, Carlos Andrade, Eduardo Guerra Carneiro, Ilídio Trindade, Jorge Massada, Martinho de Castro, Victor Bandarra e este escriba eram, no início de 1980, alguns dos nomes da redacção do Portugal Hoje. Dirigido por João Gomes e propriedade de uma cooperativa do PS, o diário havia sido fundado em 5 de Outubro de 1979. Entre os jornalistas mais novos – e talvez fosse ela até a mais nova – estava uma estudante de Direito, Isabel Oneto, de 21 anos, há dias empossada como secretária de Estado Adjunta e da Administração Interna do 21.º Governo.
A 14 de Maio de 1976, um ataque cardíaco fulminara o seu pai, Fernando Oneto, de 47 anos, e João Gomes chamaria mais tarde a mulher e a filha do conhecido opositor ao Estado Novo para trabalharem no edifício do Dafundo. E não andarei longe da verdade se disser que seriam as pessoas em quem ele mais confiava. A mãe secretariava o director e a Isabel recebia indicações e a correspondente protecção do próprio João Gomes.
Era um estatuto totalmente justificado porque ela tinha uma dedicação rara ao trabalho e de princípio recusou os joguinhos e as intrigas que nunca faltam numa redacção. Mas era também um tributo à grande figura de lutador que havia sido Fernando Oneto, um homem de enorme coragem e frontalidade, por vezes excessiva, e que vivera a 100 à hora. Aluno do Liceu Pedro Nunes, conspirador do golpe da Sé, fundador do PS, presidente da Comissão de Extinção da PIDE, administrador do Diário de Notícias, e muito mais, correu, na altura da sua morte, o boato de que desapareceu porque sabia demasiado. Nada que belisque o seu papel na história da resistência e o carisma do nome que Isabel Oneto não deixará, agora no Governo, de continuar a honrar.
Parece que foi ontem, Sábado, 4DEZ15