Alexandre Pais

Hoje é Sábado – Enfermaria laranja

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Ora aí temos as eleições no PSD para ficarmos enfim a saber quem vai ser o próximo bombo da festa. Os que acharem que a comunicação social tem sido particularmente agressiva com José Sócrates e já se esqueceram de como se deu o fuzilamento de Pedro Santana Lopes que se preparem.

Ora, ora, pensarão, nós que já sugerimos que o primeiro-ministro era homossexual, que não pode considerar-se engenheiro, que comprou o curso, que houve vigarice na compra do seu apartamento, que foi ele quem executou aqueles horrorosos projectos de casas, que se deixou corromper com o Freeport, que é mentiroso, que atentou contra o estado de direito e que quer controlar a informação, como nos conseguirão agora surpreender? Pois em verdade vos digo que ainda não viram nada. Depois da farsa rosa, vem aí a tragicomédia laranja.

Curiosamente, Pedro Passos Coelho, o grande favorito segundo as sondagens – ao que nos dizem, realizadas por apoiantes da sua candidatura – será o líder social-democrata com o perfil mais adequado para tema recorrente dos eixos do mal cá da praça. Há dias, por exemplo, o Inimigo Público e o seu humor implacável punham-no de rastos, com uma frase-assassina: Passos Coelho pede ao governo para adiar PEC até Ângelo Correia acabar de o ler e fazer-lhe um ‘briefing’.

Quer isto dizer que a classe jornalística, ou pelo menos sua intelligentzia, com a qual os políticos têm de se haver – e bem porque isso faz parte da nossa vida em democracia – não reconhecem a PPC a preparação técnica e a capacidade intelectual para altas cavalarias. E como provavelmente terão de se aguentar com ele, as facas longas estão a ser afiadas.

Talvez seja necessário mudar de alvo. É que se Paulo Rangel vier a ser o preferido da laranjada, prometem ser divertidas tanto as piadolas como as notícias, por mais inócuas que pareçam. Fotos como a da primeira página da última edição do Expresso, em que se vê uma enorme cabeça de Rangel e os dedos curtos agarrados ao telemóvel, em pleno congresso do PSD, podem ter efeitos mais arrasadores que uma disparatada e incompreensível nomeação para um tacho do D. Maria.

Já em José Pedro Aguiar Branco, o mais difícil de zurzir – e de eleger, pois é – do trio de quatro, pegar-se-ia pelos botões de punho ou pelos blazers azuis, sim porque um arzinho queque proporciona sempre boas chalaças ao pagode. Enfim, é escolher. Por difícil que seja, pior será o que virá a seguir.

Peço desculpa por ter deixado sem referência esmiuçada o quarto candidato. Mas se a sua eleição fosse possível os humoristas depressa dariam, eles próprios, entrada na enfermaria. Do manicómio, obviamente.

Observador, crónica publicada na edição da Sábado de 25 março 2010

Por Alexandre Pais
Alexandre Pais

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