Ora aí temos as eleições no PSD para ficarmos enfim a saber quem vai ser o próximo bombo da festa. Os que acharem que a comunicação social tem sido particularmente agressiva com José Sócrates e já se esqueceram de como se deu o fuzilamento de Pedro Santana Lopes que se preparem.
Ora, ora, pensarão, nós que já sugerimos que o primeiro-ministro era homossexual, que não pode considerar-se engenheiro, que comprou o curso, que houve vigarice na compra do seu apartamento, que foi ele quem executou aqueles horrorosos projectos de casas, que se deixou corromper com o Freeport, que é mentiroso, que atentou contra o estado de direito e que quer controlar a informação, como nos conseguirão agora surpreender? Pois em verdade vos digo que ainda não viram nada. Depois da farsa rosa, vem aí a tragicomédia laranja.
Curiosamente, Pedro Passos Coelho, o grande favorito segundo as sondagens – ao que nos dizem, realizadas por apoiantes da sua candidatura – será o líder social-democrata com o perfil mais adequado para tema recorrente dos eixos do mal cá da praça. Há dias, por exemplo, o Inimigo Público e o seu humor implacável punham-no de rastos, com uma frase-assassina: Passos Coelho pede ao governo para adiar PEC até Ângelo Correia acabar de o ler e fazer-lhe um ‘briefing’.
Quer isto dizer que a classe jornalística, ou pelo menos sua intelligentzia, com a qual os políticos têm de se haver – e bem porque isso faz parte da nossa vida em democracia – não reconhecem a PPC a preparação técnica e a capacidade intelectual para altas cavalarias. E como provavelmente terão de se aguentar com ele, as facas longas estão a ser afiadas.
Talvez seja necessário mudar de alvo. É que se Paulo Rangel vier a ser o preferido da laranjada, prometem ser divertidas tanto as piadolas como as notícias, por mais inócuas que pareçam. Fotos como a da primeira página da última edição do Expresso, em que se vê uma enorme cabeça de Rangel e os dedos curtos agarrados ao telemóvel, em pleno congresso do PSD, podem ter efeitos mais arrasadores que uma disparatada e incompreensível nomeação para um tacho do D. Maria.
Já em José Pedro Aguiar Branco, o mais difícil de zurzir – e de eleger, pois é – do trio de quatro, pegar-se-ia pelos botões de punho ou pelos blazers azuis, sim porque um arzinho queque proporciona sempre boas chalaças ao pagode. Enfim, é escolher. Por difícil que seja, pior será o que virá a seguir.
Peço desculpa por ter deixado sem referência esmiuçada o quarto candidato. Mas se a sua eleição fosse possível os humoristas depressa dariam, eles próprios, entrada na enfermaria. Do manicómio, obviamente.
Observador, crónica publicada na edição da Sábado de 25 março 2010