Passaram seis décadas sobre os meus primeiros anos de escola, o Mundo girou milhares de vezes sobre si próprio, Portugal é outro, aliás, em 60 anos não tem parado de mudar.
Percorri há dias de novo os quase 300 quilómetros que me separam de Canas de Senhorim – fiz em duas horas e meia o que então demorava dez –, fotografei-me com a minha filha Maria João à porta do velho edifício da primária onde tantos estalos e reguadas levámos – eu e muitos outros companheiros de desdita no inferno que era o ensino público dos anos 50.
O frio intenso, a fraca qualidade das habitações, o duro trabalho nos campos, a pobreza generalizada do meio rural transformavam a missa e a catequese numa festa, o magusto ou a récita nos bombeiros em momentos de êxtase, e o futebol num privilégio – bolas só as de trapos e os pés nus para não estragar o calçado, também isso um luxo. Era o tempo em que as crianças de 8 ou 9 anos, ou menos, comiam pouco e bebiam vinho para enganar o estômago. É ver, na foto abaixo, o ror de garrafas exibidas com orgulho…
Recorro de novo a fotos do Amadeu Soeiro para recordar como éramos nesses dias escuros e deixar uma palavra de saudade aos amigos que já partiram. Como o Mondego, na Felgueira, corremos para o mar. E lá nos reencontraremos.
Parece que foi ontem, Sábado, 2FEV17
Há 60 anos num outro Portugal
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