Em entrevista ao Público, António Costa fez mais do que dizer que não será candidato a Belém – como sugeriu Seguro, a brincar mas sem trunfo na manga para responder politicamente – e lançou de facto António Guterres na corrida às presidenciais. Santana Lopes fez o contrário, em declarações ao Expresso, lançando farpas aos putativos candidatos de direita e deixando no ar a hipótese eterna de ele próprio avançar.
Se Guterres estiver disponível, só uma vitória de Costa nas legislativas de Outubro de 2015 poderá constituir – dada a tendência do eleitorado para não pôr os ovos no mesmo cesto – um obstáculo na eventual caminhada do ex-primeiro-ministro para a Presidência, em Janeiro de 2016. Porque o pano de Guterres assenta como uma luva nesse fato. Primeiro porque se afastou da política e da chicana interna e se dedicou aos pobrezinhos num cargo internacional. Depois porque atingido por um drama pessoal o ultrapassou com dignidade e reconstruiu a família. A seguir porque é católico e a Igreja de Roma ainda mexe por cá as suas influências. Finalmente porque tendo liderado o Governo nos últimos seis anos de vacas gordas, distribuiu regalias e melhorou substancialmente subsídios e pensões – que hoje pagamos com língua de palmo mas adiante.
O foguete foi lançado e leva avanço. Veremos se alguém o pode apanhar.
Observador, Sábado, 24 JUL14
Guterres como um foguete
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