Como se não bastassem os problemas provocados pelas claques, digo melhor, por alguns marginais infiltrados nas claques nos confrontos entre rivais, eis que a baderna alastrou aos jogos da Seleção. Se havia aí um oásis de festa que permitia a participação e confraternização das famílias, depois do que sucedeu no Estádio da Luz, antes, durante e após o Portugal-Hungria, podemos dizer que esse clima de tranquilidade acabou. Uma nuvem sinistra cobre todo o território futebolístico.
Sociólogos, psicólogos e psiquiatras terão as mais variadas e especializadas explicações para o fenómeno – desemprego jovem, falta de perspetivas de futuro, desenraizamento social e por aí fora – e os jornalistas, digo melhor, e alguns jornalistas continuarão a tecer doces considerações, fechando os olhos à realidade.
Quando vemos as nossas bancadas quase vazias, atribuímos as causas ao preço dos bilhetes, às transmissões televisivas, à baixa qualidade do futebol ou ao mau desempenho dos árbitros, como se de tudo isso, e de mais qualquer coisa, se não queixassem igualmente os adeptos de outros países onde os estádios se enchem.
Mas é a ação dos bárbaros, que interrompem treinos, ameaçam jogadores, agridem árbitros e lançam a agitação nos campos, perante o pavor de quem manda, a efetiva razão do afastamento das pessoas e das famílias. Fomos contaminados por uma peste negra que tudo quer destruir.
Canto direto, Record, 3ABR17
Futebol contaminado pela peste negra
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