Há muitos anos, uma rádio portuguesa teve um chefe de redação escolhido pela sua experiência na France Inter. Com o decorrer do tempo e perante as limitações do jornalista, soube-se que trabalhara mesmo em Paris mas apenas para esclarecer, no caso da notícia de uma greve em Nelas ou da explosão de uma botija em Serpa, a quantos quilómetros de Lisboa se dera o acontecimento.
Recordei, na primeira madrugada do ano, esse já desaparecido companheiro, ao ouvir Luís Jardim, jurado de “A tua cara não me é estranha”, da TVI, sublinhar, pela enésima vez, a sua galática carreira profissional. Não que duvide dos seus méritos, mas pelo peso extra que ele sempre soma ao exagero com que nós aumentamos os factos e engrandecemos aqueles de quem gostamos. Acompanho-o, aliás, nesse pecado.
Após mais uma interpretação do genial FF – que se dividiu entre Nat King Cole e a filha, Natalie, de modo sublime – Jardim emocionou-se e classificou o artista como “um dos grandes cantores do Mundo”. Só não disse se está nos 10 ou nos 10 mil melhores…
FF conhece bem o país desperdiça-talentos em que vive e talvez por isso Jardim não tenha juntado aos encómios o seu clássico “vais muito longe”. Porque não vai, injusta e desgraçadamente.
Antena paranoica, Correio da Manhã, 7JAN17
FF nem de perto irá longe (e merecia)
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