Pinto da Costa lançou no FC Porto, com avanço de pelo menos uma década sobre a concorrência, a gestão profissional do futebol. Não profissional para distribuir salários pelos amigos, mas profissional porque feita por especialistas, por gente competente que o próprio Pinto da Costa foi escolhendo com um rigor de laboratório. Hoje, felizmente, já outros responsáveis de outros clubes entenderam que só há um caminho – e é esse.
O caso do Belenenses é o derradeiro exemplo do que distingue a competência da falta dela. Enquanto se ia vivendo de habilidades, de bingos, de empréstimos bancários, de adiantamentos de receitas ou de venda de espaços para negócios, qualquer borrabotas servia, era chutar as dívidas para a frente e venha de lá o dinheirinho.
Com a presidência de João Almeida a filosofia começou a mudar e o seu sucessor, António Soares, ficará na história do clube não só como o homem que convenceu o “mecenas” salvador, mas como o presidente que trouxe, através do investidor e gestor Rui Pedro Soares, a gestão profissional para dentro de portas. Foi assim que o emblema do Restelo ganhou a II Liga com mais de 20 pontos de avanço e vai voltar à divisão principal.
E não é só no rigor das contas e no acerto das decisões que se distinguem os profissionais dos amadores. É que a gestão que funciona barra o caminho aos dois maiores fatores de corrosão de uma organização: a intriga e os poderes paralelos.
Vítor Pereira e Van der Gaag não teriam conseguido ser campeões se as respetivas estruturas fossem permeáveis à má língua e à inveja, à guerrilha interna e à duplicação de funções, e se azuis do Porto e azuis de Lisboa engordassem, como outros, não sociedades ou empresas, mas sacos de gatos. E se não tivessem, também, lideranças que se recusam a dirimir conflitos simplesmente porque não permitem que eles existam.
Para se ter êxito é preciso alguma sorte. A questão é que ela não aparece se a competência for alguma – tem de ser muita.
Canto direto, publicado na edição impressa de Record de 25 maio 2013