O grito estava há anos, demasiados, preso nas gargantas. E soltou-se. Sejamos sérios: força alguma no Mundo – para além de tropas em execução de lei marcial imposta por uma ditadura – poderia ter evitado que tantos milhares de adeptos do Sporting, em justo delírio, enchessem as ruas de Lisboa na noite de terça-feira.
E voltemos a ser sérios para reconhecer que de uma situação dependente, em simultâneo, do Governo, da CML, da DGS, da PSP, das claques e da direção leonina dificilmente resultaria coisa boa. Não houve cabeça para ir buscar um almirante que metesse os gatos todos no saco, foi o que foi.
O mais grotesco esteve nos passa culpas que se seguiram ao quase caos, como se a partir da instalação de ecrãs gigantes no exterior do Estádio de Alvalade, autorizada por ninguém e por toda a gente – e que constituiu um incentivo formal à concentração e à baderna – se pudesse controlar mais qualquer coisa.
Mas quando a nação se revolvia nas trevas, eis que o patusco ministro Cabrita assesta baterias nos infelizes que foram lançados às feras na defesa da ordem pública. E manda abrir um inquérito à ação da polícia! Quanto ao resto, moita-carrasco. A falta de decoro tornou-se instituição em Portugal.
Antena paranoica, Correio da Manhã, 15mai21