Filho de funcionários administrativos da Saúde, eu teria cinco ou seis anos quando acompanhava os meus pais ao seu local de trabalho, no n.º 27 da Rua de Buenos Aires, em Lisboa, onde se situava o Posto 4 da então denominada Federação das Caixas de Previdência. Aí, sentia especial atracção pelas máquinas de escrever e pelos consultórios dos médicos, e fui mimado por nomes da Medicina como Norton Brandão, Silva Santos, Oliveira Machado ou… Baltasar Rebelo de Sousa. Recordo hoje este último, que se distinguia ainda pela grande atenção que dedicava aos problemas daqueles com quem trabalhava.
Bem posicionado nos corredores do regime, o pai de Marcelo, António e Pedro Rebelo de Sousa conseguia por isso evitar alguns abusos e corrigir muitas injustiças, pelo que não me surpreendeu a calorosa despedida que os colaboradores lhe fizeram, antes da sua ida para Moçambique, de que foi governador-geral de 1968 a 1970.
Ministro de Marcelo Caetano entre 1970 e 1974 – e com a pasta do Ultramar no derradeiro governo do Estado Novo, que tomou posse a 7 de Novembro de 1973 – calculo que não tenha sentido, após a revolução de 1974, os abraços que lhe sobravam antes. Mas não esqueço a tristeza do meu pai, já em 2002, quando regressou do funeral do dr. Rebelo de Sousa. À interpelação da minha mãe – que quis saber se lá tinha estado “muita gente” – o meu pai respondeu, baixando os olhos: “Do nosso tempo, eu era o único”.
Mudou muito para melhor Portugal desde o 25 de Abril. Mas em termos de nobreza e gratidão seguem desgraçados os dias.
Parece que foi ontem, Sábado, 15OUT15
Baltasar Rebelo de Sousa: esquecido por aqueles que ajudou
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