O meu amigo João Luís acaba de partir. Nunca compreendi a escolha de Igor Sampaio para nome artístico já depois dos anos difíceis que partilhámos no final da década de 60.
Conheci-o no Conservatório e acompanhei os conselhos do nosso professor de Arte de Representar, o ator e encenador Álvaro Benamor, para que trabalhasse no sentido de perder o sotaque micaelense. Isso fazia com que o João passasse horas a gravar a sua voz e a ouvir, a corrigir e a voltar a gravar… Uma lição de força de vontade!
Foram tempos duros, mais para o jovem carregado de talento que ele era – longe da família e com parcos recursos de sobrevivência em Lisboa – do que para mim, que sabia não ter a mesma capacidade. É que além do teatro o João dançava e pintava, aliás, ia ganhando a vida na equipa de Pinto de Campos, a fazer cenários e figurinos – tinha também imenso jeito para o desenho, era um superdotado – e executou muitos dos painéis gigantes que os cinemas colocavam nas fachadas para promover os filmes, meio século atrás.
Agora que o João nos deixou, recordo os velhos dias de esperança – e aquele “O doido e a morte”, de Raúl Brandão, que ele encenou em 1968, no palco histórico do Clube Estefânia… Até breve, Ator.
Antena paranoica, Correio da Manhã, 4set21