Alexandre Pais

E um dia Cristiano disse que não queria mais

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O fim do ciclo de Cristiano Ronaldo na Juventus não podia ter sido mais esclarecedor. No seu derradeiro jogo, frente à Udinese, entrou para a meia hora final e conseguiu, ao cair do pano, o que seria o golo da vitória não fosse o VAR descortinar um ombro (!) uns centímetros ‘adiantado’. E na primeira partida em que já não participou, a sua falta também não podia ter sido mais sentida em campo: a Juve perdeu em casa com o modesto Empoli. Agnelli começou a pagar o preço de ter dado a entender a Cristiano que não fazia grande questão que ficasse. Para isso, contou com a ‘ajuda’ de Allegri, que se pôs a perorar sobre a ‘gestão’ dos minutos que iria dar a CR7, com a imprensa amiga da casa a espalhar que o craque deixara de ser titular indiscutível.

Certo é que pior não podiam as coisas estar a correr para a Juventus, o que já levou Nicolò Pirlo, filho de Andrea Pirlo, o anterior técnico, a lançar a farpa: “Se tivesse acontecido na época passada…” Mas a verdade do ‘divórcio’ se assenta na desilusão da Juve – que nunca conseguiu formar uma equipa que aproveitasse a ‘fábrica de golos’ em que investira 117 milhões de euros – vamos encontrá-la mais na vontade de Cristiano, que um dia acordou e percebeu que Turim constituía o cemitério das suas ambições. Fabio Capello, treinador jubilado que não é conhecido como um admirador de CR7, tocou com o dedo na ferida ao dizer ao jornal italiano ‘La Gazzetta dello Sport’: “Cristiano Ronaldo já não acreditava na Juventus. Do seu ponto de vista a equipa já não tinha força para se impor internacionalmente. Foram três anos falhados na Liga dos Campeões e este talvez seja o principal motivo para ele sair”.

Fui dos poucos que nunca acreditaram na ida para o City. Que sentido faria voltar a Manchester perdendo a admiração dos adeptos do United e de Alex Ferguson, que um dia Cristiano chegou a considerar como ‘pai’? Ter agora a possibilidade de contribuir para o eventual regresso dos ‘red devils’ ao topo do futebol europeu – ainda por cima a troco de 58 milhões de euros em duas temporadas – é o melhor desafio que Cristiano podia ter nesta reta final de carreira e uma bofetada de luva branca nos seus detratores. Segui-lo na prodigiosa aventura que continua tornou a ser um vício.

Os comentários de José Manuel Freitas fazem parte da história da CMTV e da própria televisão em Portugal. Alguns meses depois de voltar à SIC, o filho do grande Amadeu José de Freitas ‘transferiu-se’ para a TVI, que se valoriza assim com o contributo de um profundo conhecedor do futebol e um analista de isenção à prova de bala. Chapeau!

Parágrafo final para saudar Jorge Sampaio – leitor de sempre do Record e um amigo que em diversas ocasiões distinguiu este jornal – que atravessa uma situação delicada de saúde. Acompanho a esmagadora maioria dos portugueses ao desejar-lhe boas melhoras: força, Presidente!

Outra vez segunda-feira, Record, 30ago21

Por Alexandre Pais
Alexandre Pais

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