Praticar tiro e colocar no alvo Eduardo Cabrita – que podia ser ministro da Cultura, do Trabalho ou da Apanha de Bivalves com a mesma competência com que tutela a Administração Interna – tornou-se num desporto nacional. Infelizmente, sobram motivos para isso, e quando não sobram, arranjam-se. É o caso do rescaldo do regabofe dos ingleses, no Porto, a que o país assistiu como se nada se tivesse aprendido com a rebaldaria dos festejos do Sporting, em Lisboa. Lá estava a falta de distanciamento e o desprezo pelas máscaras – fora e dentro do estádio – o comportamento insultuoso, o consumo de álcool na via pública, os objetos voadores e as agressões, perante a impotência das forças de segurança.
Não, não me venham com as culpas do ministro porque salta à vista como em matéria de segurança somos craques se tudo correr bem e uns nabos quando se trata de prever, planificar e atuar. Ou terá sido Cabrita a autorizar a orgia do Dragão e a proibir, em simultâneo, a presença de público português nas finais internas? Terá sido ele a validar a praga dos ecrãs gigantes? Ou a inventar a treta da “bolha” de 24 horas no sábado da final, com as fronteiras abertas dias antes para a invasão de vândalos cujo amor não é o futebol mas o álcool e a baderna? E depois do mal feito, foi igualmente o ministro Cabrita o operacional que se equivocou na estratégia, ou na falta dela, que permitiu, de novo, o caos nas ruas?
Se calhar, um dos motivos que contribui para fazer de Eduardo Cabrita o bombo da festa é o da não utilização das redes sociais, o que o impede de explicar decisões e de recolher com isso benefícios políticos. Devia seguir, por exemplo, as boas práticas do habilidoso secretário de Estado do Desporto, que há dias publicou, no Twitter, uma foto em que o vemos a descerrar uma placa – onde, obviamente, consta o seu nome, com “Dr.” e tudo – alusiva à inauguração da vedação (!) metálica do campo do Grupo Desportivo de Lagoa… Pelos vistos, a falta de noção pega-se.
Não era preciso, mas uma vez ainda nunca é de mais. A derrota do Manchester City confirmou duas coisas: que sendo o melhor, Guardiola também perde, e que Leonardo está de parabéns por ter despedido Thomas Tuchel, “cedendo-o” ao Chelsea para ganhar a Liga dos Campeões. É de génio.
E que dizer de Guardiola, que recebeu a medalha de finalista vencido e a beijou, num gesto de “fair play” desconhecido por aqueles que logo a retiram do pescoço e a metem no bolso? De facto, a classe é para quem a tem.
Vem aí mais um grande repto para a Seleção e há um pormenor que não entendi nas escolhas do engenheiro: convocou apenas três centrais, com dois deles a somarem uns respeitáveis… 75 anos. Com tantos jogos pela frente – só entre os dias 4 e 23, são cinco, podendo haver mais quatro, oxalá – não tarda que Domingos Duarte ou Rúben Semedo, ou os dois, metam pés ao caminho.
Sinto-me em êxtase com o brutal desempenho de João Almeida no Giro. Terminou em sexto na geral – não foi quinto por meio segundo! – em sexto na montanha, em 12.º na classificação por pontos e nas últimas seis etapas foi duas vezes segundo, duas quinto e uma sexto. E só não melhorou o quarto lugar do ano passado porque andou demasiado tempo a fazer de pajem de Evenepoel. Ao vê-lo recuperar tantos minutos e bater-se com os melhores, rampas acima, superando aqueles momentos mais duros em que o corpo manda parar, fiquei sem dúvidas: temos, finalmente, um ciclista capaz de repetir os êxitos do lendário Joaquim Agostinho. Chapeau!
O parágrafo final vai para outra lenda, esta esquecida, o fundista Armando Aldegalega, que pude rever na SIC, à conversa com Isabel Silva e Joana Aguiar. O antigo atleta do Sporting, que participou em grandes provas internacionais, incluindo duas Olimpíadas, e que competiu até bastante tarde – conquistou o seu décimo título nacional da maratona com mais de 40 anos! – fez parte das alegrias que o atletismo me trouxe na adolescência, num tempo em que ninguém sonhava com as medalhas que viriam bem mais tarde. Ainda por cima, o Armando, hoje com 83 anos, continua a correr todos os dias e a respirar saúde. Foi bom rever-te, campeão!
Outra vez segunda-feira, Record, 31mai21 (versão integral)