Este ano quase não houve período de tréguas nas tragédias de abertura dos telejornais: acabaram há pouco os incêndios e entrámos rapidamente na época dos estragos próprios do inverno. Chegaram, assim, as imagens das primeiras cheias e dos efeitos devastadores das marés-vivas, que entram terra adentro para descobrir a careca à incúria dos homens.
Na Parede, findaram as obras de reforço do paredão e logo o mar voltou a passar sobre os carros na Marginal; no Furadouro, um bar de praia foi destruído, em minutos, mesmo em frente a prédios edificados em cima da área marítima; em Rabo de Peixe, a barreira de cimento do porto de abrigo, de construção recente, não evitou a perda de uma dezena de embarcações; e na Foz e na Costa da Caparica as ondas da ira repetem um espetáculo de terror que se tornou num clássico.
O desrespeito pelo ambiente e pelo Planeta levou a isto: o mar a subir, implacável, com a ciência em pânico e a política a assobiar para o lado. E ainda vai a procissão no adro.
Antena paranoica, Correio da Manhã, 31OUT15
E todavia o mar avança
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