Com o crédito de ter previsto a inevitabilidade de uma pandemia, que entretanto surgiu, e uma indesmentível vocação para profeta, Bill Gates avisa-nos agora do próximo pesadelo que espera a Humanidade: o bioterrorismo. Dentro de mais ou menos tempo, movida por motivos políticos ou sociais, ou por pura maldade, a bandidagem espalhará o terror, libertando no ar agentes biológicos de toxicidade letal. Espero já não viver esses dias, que chegarão talvez mais cedo a outros países, mas inquieto-me pelo que sucederá a quem cá estiver.
Ao que não escaparei é à tragédia que hoje nos confronta e que tem no desporto, mais concretamente no futebol – e por todo o Mundo – uma dimensão alarmante: a criminalidade juvenil. Em Portugal, junto a escolas mal servidas de pessoal e quase sem segurança, multiplicam-se os casos de violência, com adolescentes a agredir colegas – e professores – por vezes em grupo e de forma brutal. Longe das aulas, são de igual modo graves as rixas provocadas por gangues juvenis – gerados pelo insucesso e pelo abandono escolar, e por uma imigração descontrolada – que tomam conta da rua e lançam o pânico na população. E enquanto se formam essas academias do crime, agentes das forças policiais são levados a tribunal por situações inerentes ao uso de armas de fogo no combate aos criminosos. É a tempestade perfeita.
Os clubes são presas fáceis da marginalidade, sem que a maioria dos dirigentes tenha coragem para se lhe opor. Ainda há dias, adeptos do Benfica ‘armaram a tenda’ em Brugges, envolvendo-se em confrontos com gente local de idêntico calibre, introduzindo tochas no estádio e protestando – calcule-se! – pela criminalização da sua utilização. E como a polícia belga deteve até final do jogo 25 arruaceiros cujo comportamento passou dos limites, a direção dos encarnados resolveu pedir satisfações à polícia em vez de condenar a baderna…
Quem parece não estar disposto a continuar a ‘pôr a mão por baixo’ da selvajaria é o secretário de Estado da Juventude e do Desporto, João Paulo Correia, o primeiro SE dessa área a fazer prova de vida desde Miranda Calha – já que os seus sucessores se distinguiram pela não existência. O novo Regime Jurídico dos Explosivos e Substâncias Perigosas, aprovado em Conselho de Ministros e enviado à Assembleia da República, contempla uma pena de prisão até cinco anos para quem transporte, distribua ou use artigos pirotécnicos em recintos desportivos ou em locais de concentração de adeptos. É uma gota de água no combate aos alarves das cavernas? Sim, mas também um sinal de esperança.
E com esta inquietação vos deixo, por vontade própria – e sem me sentir ‘empurrado’, um privilégio – precisamente no dia em que se cumprem 20 anos (!) sobre a minha chegada ao ‘Record’. Entre largas centenas de textos, terei assinado opiniões menos acertadas, mas fui um livre pensador que nunca serviu outros interesses que não os do jornal. Agradeço a todos os que me acompanharam – ou me permitiram ir ficando – com a certeza de que o ‘Record’ continuará a ser uma referência na informação desportiva. E termino com um emocionado ‘obrigado’ aos leitores, que tudo me deram. Até sempre.
Outra vez segunda-feira, a última crónica, publicada no Record de 20 de fevereiro de 2023, 20 anos depois da chegada do escriba à direção do jornal