Alexandre Pais

Do regresso de Iniesta a Benfica e Sporting no limite

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Saber gerir a carreira é a terceira condição para o sucesso, depois do trabalho –muito trabalho – e do talento natural para um desempenho profissional. Andrés Iniesta confirma agora ter reunido as três qualidades ao escolher o final da época para dizer adeus a 22 anos de Barcelona. Deixará o clube num momento magnífico: após a conquista de mais uma liga, com um avanço merecido e arrasador, e de outra Taça de Espanha, esta ganha no sábado, após uma atuação de sonho a juntar ao livro de ouro exibicional do enorme “capitão”.
Tapado, no reconhecimento internacional, pelo nível estelar de Cristiano e Messi, sem a aura mediática de um Neymar, de um Buffon ou de um Ibrahimovic, e sendo ainda um grande jogador, Andrés foi, no pico mais alto de rendimento, tão bom como os dois melhores e, indiscutivelmente, um dos maiores futebolistas de todos os tempos. Podia seguir no Barça? Podia, como lá poderíamos ver Xavi, que mesmo jogando apenas meia parte continuaria hoje a deslumbrar nos culés. Mas os anos não passam em vão, a profissão é exigente e a glória é mais curta que a memória. Daí que a sabedoria seja um dom que manda que se olhe mais além. E atribui-se até, ao imbatível ego de Ibra, numa das suas múltiplas partidas e chegadas de “globetrotter” da bola, uma frase que vale por si: “Cheguei como um rei, parto como uma lenda”.
É esse o destino de Iniesta, partir como uma lenda para voltar ao seu reino catalão, um dia ou sempre que queira. Não temamos o julgamento da história do futebol deste maravilhoso protagonista – campeão da Europa e do Mundo, e 170 vezes internacional pela Espanha em todas as seleções – que, aos 34 anos, irá aumentar na China uma igualmente bem resolvida “carreira bancária”: mais cedo que tarde, Andrés regressará ao Barça. Palavra de madridista.
Se os jogadores do Sporting, a acreditar em Jorge Jesus, se encontram no limite da resistência física, os do Benfica, vimo-lo na Amoreira, estão também presos por arames no capítulo psicológico. A derrota na Luz com o FC Porto, numa altura em que pareciam ter o campeonato no bolso, teve efeitos demolidores. O golo salvador de Salvio evitou para já o pior mas não bastou para disfarçar as atuais dificuldades dos encarnados. Jupp Heynckes, a propósito do Bayern-Real Madrid de quarta-feira, explicou que no seu trabalho com os jogadores bávaros “o mais importante é a psicologia”. Nesta fase da temporada, afinal, todos estão nos limites da sua capacidade e dependentes da energia que lhes restar nas cabecinhas.
O último parágrafo vai desta vez para Rafael Nadal, de novo “ressuscitado” para o grande ténis e apostado em travar, ao mais alto nível, um repetido, inesperado e apaixonante duelo com Roger Federer pelo número 1 do ranking ATP. Quem diria, há dois anos, quando Murray e Djokovic acumulavam torneios e os dois veteranos se debatiam com os primeiros sinais de “reumático”, que o tempo voltaria atrás, a história se reescreveria e Roger e Rafa tornariam a liderar o circuito mundial? Ansioso por Roland Garros, louco por Wimbledon – eis como eu estou.
Outra vez segunda-feira, Record, 23ABR18

Por Alexandre Pais
Alexandre Pais

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