Por muito talento que se tenha e por muito trabalho que se desenvolva, é sempre indispensável fechar o triângulo mágico do sucesso com o terceiro vértice, o da sorte.
O sábado foi fatal para o segundo grande treinador português a atuar no estrangeiro, Leonardo Jardim, que com o empate no bolso mesmo no fim do difícil embate de Lyon viu a equipa de Anthony Lopes chegar ao triunfo aos 90+6. Ao contrário do que aconteceu ao Monaco, o rival PSG alcançou a vitória aos 90+3, quando o 1-1 em Dijon parecia firme. Cá está: se a fortuna lhe tivesse sorrido, Jardim estaria agora a 3 pontos dos de Paris e assim ficou a 6, mantendo embora o segundo lugar. Nada que nos espante: afinal, é a diferença entre os quase 300 milhões de euros de saldo positivo das entradas e saídas de jogadores do clube do principado, só no último verão, e os mais de mil milhões “derretidos” pelo PSG desde 2011. Só um grande treinador pode impedir que tal diferença na tesouraria se torne esmagadora dentro do campo e em maio saberemos se Leonardo Jardim terá ou não conseguido um novo milagre.
Mas o terceiro grande treinador português a trabalhar lá fora, Marco Silva, pode gabar-se da sorte que faltou a Jardim, pois a sua boa estrela dos últimos minutos voltou a brilhar, desta feita com o golo sobre a hora que liquidou a preguiçosa equipa do Arsenal. Um penálti duvidoso aos 71 minutos garantia o empate ao Watford, o que já seria bom, mas uma recarga de uma recarga, aos 90+2, assegurou a vitória que coloca os de Marco Silva na quarta posição, com 2 pontos acima de Chelsea, Arsenal e Liverpool. É a chamada sorte que protege os audazes, pois na Premier só tem resultados quem fecha o triângulo mágico.
E guardo algumas linhas para outro sortudo encartado, Fernando Santos, que viu por estes dias Cancelo a integrar-se na manobra vitoriosa do Inter e Nani a recuperar a forma igualmente no triunfo da Lazio no terreno da Juventus. E viu ainda – oh, obra de arte! – Gonçalo Guedes a apontar um golo tremendo, que ajudou o Valencia a chegar à viceliderança da liga. Alguém terá de cair da lista para o Mundial porque não falta gente a comprar bilhete.
A propósito de Espanha, o parágrafo final vai para o Real Madrid, que depois de ter vendido (por 20 milhões de euros), recomprado (por 30 milhões) e voltado a vender (por 80 milhões!) o avançado Morata, surge agora disposto a repetir a dose com Mariano, que cedeu ao Lyon (por 8 milhões de euros, também com cláusula de recompra), deixando de novo os merengues com um único ponta de lança: Benzema. Financeiramente, pode ser mais um caso maravilhoso porque Mariano está a demonstrar, em França, a qualidade que se lhe adivinhava, mas quando, no pico da época, o francês der baixa com as habituais “moléstias”, quero ver como Zidane resolve o problema. É uma espécie de filme mudo, Don Florentino.
Outra vez segunda-feira, Record, 16OUT17
Do azar de Leonardo Jardim à sorte de Marco Silva
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