A televisão tanto pode “fazer” presidentes como transformar-se, se não lhe for dado o uso adequado, em máquina de contra-informação. E o Governo foi mais uma vez inábil no modo como comunicou, desta feita a política de limpeza florestal.
Pelo meio do ruído mediático do afã de propaganda dos ministros da Agricultura e do Ambiente – que aproveitaram ao extremo o pesadelo da seca, mesmo quando já havia barragens a descarregar e a inundar os campos, e o problema passara da falta de água para o seu excesso – a campanha para limpar matas surgiu enrolada, aos repelões.
Era o exagero do dia 15 como limite, a escassez de recursos das autarquias, os proprietários pobres, as coimas que são afinal contraordenações, a confusão com certas regras – a da proibição das copas das árvores se tocarem é anedótica – ou os técnicos que questionavam a limpeza dos matagais em março. De facto, se chover em abril, aos solos que ficam agora carecas não faltará restolho em julho. Enfim, muito discurso avulso, mas orientação lógica, consistente, definida no tempo e comunicada de forma clara é que não houve.
Resta-nos enfrentar de novo, com inabalável fé, a previsão astuta do ministro Cabrita: “Teremos certamente incêndios”.
Antena paranoica, Correio da Manhã, 17MAR18
Discurso enrolado na campanha de limpeza das matas
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