Não estive só: largos milhares de telespectadores aguardaram longuíssimos minutos na esperança de ver chegar à meta, no Sambódromo do Rio de Janeiro, os nossos maratonistas. Foi tão penosa a espera como dececionantes as provas de Rui Pedro Silva, 123.º, e Ricardo Ribas, 134.º, que as concluíram depois de vários atletas fisicamente diminuídos, coxos mesmo, e muito longe dos representantes de países sem historial, como estónios ou guatemaltecos, líbios ou georgianos, ruandeses ou mongóis. E com tempos próprios de participantes populares em provas caseiras – algo que um país que teve Carlos Lopes e Rosa Mota como primeiras figuras de uma plêiade de grandes fundistas podia e devia ter evitado. Se não havia melhor, não íamos, paciência.
Dito isto, ponto de ordem à mesa: chegar ao fim de uma maratona é um êxito, passar anos a fio de privação de outros interesses da vida para uma entrega total ao desporto é altamente meritório, quer venham a seguir vitórias ou insucessos. Direi mais: quem, como eu, nunca correu uma maratona, não tem autoridade moral para criticar os que enfrentam a dureza da corrida e lutam até ao limite das forças. Tiro-lhes por isso o chapéu, apesar de esperar mais da sua participação, e da dos restantes portugueses, nos JO.
Mas a verdade é que não faltaram diplomas olímpicos, uma medalha, boas classificações e exemplar dedicação. Como a daquele atleta que passou quatro anos a viajar em “low cost” e a dormir em aeroportos para poder competir. E é aí que está o cerne do problema. O fim do consulado de Vicente de Moura não deu, desgraçadamente, lugar à renovação e ao advento de novas políticas e de uma nova mentalidade. E sem isso, nada feito.
Canto direto, Record, 22AGO16
Desilusão olímpica ou talvez não
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