Desde o meu último post, há 41 dias, a média de visitas diárias a este blog suspenso – e ainda por decisão minha “atirado” para o último lugar da lista de blogs do site – tem-se mantido acima de MIL (!), o que me surpreende e sensibiliza.
Isso leva-me a continuar por mais algum tempo – enquanto construo um blog “independente”, infelizmente atrasado – a abusar da “hospitalidade” do Record Online e do João Querido Manha, e a publicar ainda aqui os textos que recomecei a produzir, mais cedo do que esperava, para o Correio da Manhã, para a Sábado e para o próprio Record, correspondendo assim à simpatia e à fidelidade dos leitores.
Aqui fica, então, a primeira crónica publicada depois de ter deixado a direção de Record. Seguir-se-ão as outras que se encontram… em atraso.
Dia 1 de uma nova vida
Inicio,
com esta crónica número 413, se não me falham as contas, um novo ciclo da minha
vida profissional. A direção de Record é passado e se me deixou gratíssimas recordações – as
pessoas, sempre as pessoas… – constituiu também uma provação, dura e prolongada,
que teve o seu único momento gratificante no segundo em que acabou. Não me
despedi de ninguém, simplesmente escrevi o derradeiro texto, levantei-me do meu
lugar no meio da redação e parti – pela porta da frente. A questão com que me
defrontava, desde janeiro, era clássica: devemos fechar os ciclos quando ainda
temos, ou julgamos ter, muito para dar à profissão e às organizações, ou
esperar até apodrecer na nossa
quintazinha e acabar por ter de deixá-la e sair, como tantas vezes acontece,
pela porta pequena? O problema é que obtida a resposta não se deve abandonar o
posto de acordo com as conveniências próprias e com desrespeito total pelos
acionistas, pelos companheiros e, neste caso, pelos leitores. É preciso
descobrir – e se não estiver à vista há que a procurar – a janela da
oportunidade.
Tive a sorte – tive muita sorte nestes últimos dez anos e meio – de
encontrar na Cofina quem compreendesse que eu, apesar de atravessar talvez o
melhor período da minha carreira, de acumular uma experiência quase imbatível, passe
a imodéstia, e de ter apresentado resultados que infelizmente o meu sucessor
não irá repetir – não por falta de capacidade mas porque o mercado hoje é outra
desgraçada coisa –, não queria fazer mais o trabalho que terá de ser feito para
manter o Record saudável e líder da
imprensa desportiva. Porque não se pode constituir um núcleo duro num
projeto, exaltar durante anos os méritos, o esforço e o talento das pessoas que
escolhemos para connosco lutar e sofrer, e que em nós confiam, e um dia simplesmente
dizer-lhes: “Lamento mas já não fazem cá falta, agora é a vossa vez de ir para casa”.
Quando chega essa altura é o comandante quem tem de assumir que
falhou. E se não o fez na condução do barco a bom porto, ou seja, se cumpriu aí
o seu compromisso com o armador, faltou aos seus homens naquilo que
legitimamente esperavam dele: que lhes garantisse a estabilidade profissional,
o salário justo e o bem estar das suas famílias. Esse voto de confiança nunca
deve ser quebrado. E eu, já numa fase da grande
caminhada em que só me guio pela minha consciência, não poderia quebrá-lo –
e não o quebrei.
Dada a explicação, de novo com o recurso à infinita paciência dos
leitores da SÁBADO, aqui estou, de férias gozadas, pronto a repartir convosco,
do meu posto de observador, o olhar crítico e, se o conseguir, também mordaz,
sobre estes nossos difíceis dias. Será um privilégio, até para a semana, então.
Observador, publicado na edição impressa da Sábado de 8 agosto 2013