Horríveis as imagens do desastre humanitário provocado pela entrada dos talibãs em Cabul e pelos vencidos em fuga! O caos no aeroporto, com o pânico dos afegãos qualificados e das suas famílias – gente traída que acreditou no Ocidente e no sonho de um futuro melhor – ilustra a terrível dimensão da tragédia.
Sinto ser boa altura para recordar aqui os retornados da África portuguesa, que em 1975 passaram por drama idêntico sem que o seu sofrimento tivesse merecido toda a atenção de um país ainda inebriado pelos ventos de liberdade trazidos pelo ‘25 de abril’.
Para se ter uma pálida ideia, reproduzo pequena parte do que José Caetano Pestana agora escreveu no Facebook: “Situações de desespero semelhantes viveram-se no antigo Aeroporto Craveiro Lopes e na placa militar da Base Aérea 9 de Luanda. Ao sol, milhares de volumes abandonados de bagagem perdida, parcos restos de uma vida que ficava para trás, portugueses que embarcavam com a roupa no corpo. O medo e o som das AK-47 soviéticas que chegava dos musseques aumentavam o desespero, provocando mais acotovelamentos nas escadas das aeronaves, todos queriam partir…”
Tempos distantes, mas que doeram e deixaram marcas. A memória é uma coisa tramada.
Antena paranoica, Correio da Manhã, 28ago21