1. Demorei a combater a praga. Durante
anos, tive na cozinha uma parafernália – utilizo o termo em homenagem aos jovens
jornalistas que o colocaram no
top das suas preferências, superando o estafado dantesco – de pequenos eletrodomésticos.
Tudo o que fosse novidade, eu comprava. Com o tempo, fiz a descoberta dos
burros: dois terços do material reluzente não saía das prateleiras. A partir
desse 80, regressei ao oito e hoje sou de novo feliz com uma torradeira, o que
significa que a proeza de Mr.
Bimby me deixa indiferente.
2. A filha de um amigo fez, com a sua
escola, uma visita de estudo à Assembleia da República. E ficou impressionada
não só com a beleza arquitetónica do edifício, mas também com a atividade dos
representantes da Nação: enquanto um deputado usava da palavra perante um
hemiciclo quase deserto, os poucos colegas presentes, davam afanosamente aos
dedos nos computadores. Curiosos, os miúdos esticaram-se nos seus lugares,
tentando compreender tanto desinteresse pelo discurso. E ficaram estarrecidos: a
maioria dos parlamentares estava… no Facebook! Quanto às bancadas vazias, é
sabido que nas múltiplas comissões o suor escorre, mas com público nas galerias,
e público jovem que é talvez o mais afastado da classe política e o mais difícil
de convencer, a inteligência não alerta os senhores deputados para a
necessidade, ou até a obrigação de darem exemplo do seu compromisso? Depois,
queixem-se.
3. Perto de casa, tenho uma farmácia
fantástica. Ampla, com instalações funcionais e muitos produtos expostos, o que
nos dias que correm começa a ser uma raridade. Mas a essa imagem moderna e
apelativa não corresponde o atendimento, aliás, um problema que é nacional e não
um exclusivo das farmácias. A lentidão é enervante e a conversa de chacha
infindável. Numa sala contígua, chegam a juntar-se quatro funcionários a debater
as previsões meteorológicas e os projetos para o fim de semana, perante o
desespero dos clientes que aguardam com as senhas na mão ou desistem e
desaparecem, o que parece ser o objetivo daqueles candidatos a desempregados –
como se estivessem a atender indigentes que fossem obrigados a voltar. Mas num
ecrã, na parede, não faltam lamúrias: As
farmácias estão de luto, 600 farmácias vão fechar em 2013, ajude a sua farmácia,
etc. Bem prega Frei Tomás.
4. Impressionante a expressão de Jorge
Jesus e a sequente queda de joelhos junto à linha lateral, após o golo da
vitória do FC Porto, no Dragão. Não se tratou de um ato de fé, como o de José
Mourinho, há um ano, antes dos penáltis com que o Bayern eliminaria o Real
Madrid. Com o treinador do Benfica foram mesmo as pernas que cederam, um segundo
em que se lhe esvaiu a vida.
Observador, crónica publicada na edição impressa da Sábado de 16 maio 2013. Tema de Sociedade da semana: eletrodomésticos