Este pequeno canto do Mundo é um enorme cemitério de talentos. Portugal é, ancestralmente, um país de sempre os mesmos. Por todas as áreas de atividade – da política à televisão, do desporto ao jornalismo – se espalham os velhos lóbis. Eles procuram, e na maior parte das vezes são bem sucedidos, pressionar para colocar os seus membros nos postos-chave, tentando dar, a quem têm a certeza de poder manobrar, as oportunidades negadas a outros, sendo estes “outros” a esmagadora maioria dos que lutam para encontrar um lugar ao sol – não por favor e menos ainda por compadrio, mas como consequência da sua preparação, do seu conhecimento, do seu trabalho, da sua capacidade para sofrer, da sua vontade de deitar a cabeça de fora da mediania.
Especialista na gestão parasitária, de quando em vez essa gente, mandriona, distrai-se e deixa entrar um peixe de outro aquário, um franco-atirador que traz as mãos-limpas porque não teve de passar pelo crivo que aprova os vícios e a malandragem.
É o caso de Costinha – que jogou em equipas de topo sem ter ficado prisioneiro de ninguém, que foi internacional, campeão europeu de clubes e vice-campeão europeu de seleções, sem deixar que lhe pusessem o pé no pescoço – a quem Jorge Mendes, ora aliado de José Eduardo Bettencourt, abriu uma janela de oportunidade. Mas ele só será aceite pelo rodízio da inveja e da má-língua se esmagar a mediocridade com resultados. Até lá, terá de pagar por ter entrado não só sem avisar, mas também, e principalmente, por não ter pedido autorização.
Isso me basta para gostar dele, para querer o seu êxito, para o apoiar com as críticas ou com os elogios que merecer. E não terei dúvidas: se tiver de escolher entre a sua inexperiência e boa-fé, e a falta de caráter dos que aparecerem para o derrubar, “votarei” Costinha, obviamente.
Canto direto, publicado na edição impressa de Record de 17 abril 2010