Parecia a emanação de Che Guevara. Farda verde oliva, barba crescida, arma a tiracolo: era essa a imagem de Edén Pastora quando, a 22 de agosto de 1978, à frente de 23 guerrilheiros da sua milícia Frente Sul, tomou o Palácio Nacional de Manágua e fez mil reféns, numa ação que abanou o regime do ditador Anastasio Somoza.
Essa proeza e o exílio que se seguiu no Panamá, após o governo da Nicarágua ter libertado 59 presos políticos e pago um resgate de meio milhão de dólares, tornaram o Comandante Zero, como passou a ser designado, numa lenda. Após o derrube de Somoza, em julho de 1979, ocupou o cargo de vice-ministro da Defesa mas em pouco tempo incompatibilizou-se com a Frente Sandinista de Libertação, que controlava o país. Considerado traidor, refugiou-se na Costa Rica, onde o jornalista português Carlos Gil o entrevistou para a revista Élan, em 1987, numa aldeia de pescadores, após voltas infindas pelas matas para despistar eventuais perseguidores.
Mas os tempos mudaram e, em 2010, o Comandante Zero reconciliou-se com os sandinistas e regressou à Nicarágua. Hoje com 80 anos, Pastora usa um Rolex e conduz um Alfa Romeo desportivo. Em recente entrevista, defendeu o governo liderado, há 11 anos, por um antigo aliado e também ex-inimigo, Daniel Ortega: “Lutaram para viver bem. Não me interessa se andam de Mercedes, usam rolexes ou comem caviar, mas se fazem obras revolucionárias”. E fica tudo dito.
Regime oferece a Pastora lotes de terreno que pertencem a um hotel suíço
Derrotado por Ortega nas presidenciais de 2006, Edén Pastora foi nomeado quatro anos depois representante da Presidência da Nicarágua na região de Rio San Juan, no sul do país. Recentemente, o governo ofereceu-lhe 20 lotes de terreno, no município de Rivas, na costa do Pacífico, o que levou a cadeia suíça proprietária do Hotel Punta Teonoste, que alega ter as terras registadas em seu nome, a processar Pastora e o Estado, e a pedir uma indemnização de 800 mil euros.
Parece que foi ontem, Sábado, 17AGO17
Comandante Zero já usa Rolex
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