Por que será que os países da UE não têm forças militares de intervenção? Por falta de consenso, por convicção política ou apenas por ser muito caro? A resposta é simples: porque a opinião pública de cada país não aceitaria ver chegar as urnas com os seus mortos. Esse foi, aliás, o princípio do fim do regime de Salazar.
O ano passado, não foram os incêndios que fizeram tremer António Costa. O mais duro de enfrentar – cujas sequelas só se conhecerão de facto nas eleições de 2019 – resultou das imagens, replicadas até à exaustão pelos canais de TV, dos funerais das vítimas. Não é, pois, por acaso que o Governo insiste na mensagem de que o mais importante é proteger as “vidas humanas” e que Eduardo Cabrita se atreveu a falar em vitória.
O ministro da Administração Interna tem o pior emprego do país e o seu sofrimento deve ser atroz sempre que se vê forçado a elogiar os responsáveis – mais incompetentes do que competentes pelo que salta à vista – que não foram escolhidos pelo mérito mas pela confiança política. A angústia no seu rosto de falso poderoso acossado, a ouvir em Monchique a desanda de um popular à Proteção Civil, na cara de Marcelo, merecia a misericórdia divina – e merece a nossa.
Antena paranoica, Correio da Manhã, 18AGO18