Alexandre Pais

Canto direto: seria bom que os poderosos pudessem ser enfrentados?

C

 

Alberto do Rosário, que todos os sábados assina, aqui mesmo, “nas minhas costas”, uma coluna de lucidez absoluta, escreve hoje, a propósito da ação “contra corrente” de Mário Figueiredo, na liderança da Liga, que “em Portugal, enfrentar os poderosos raramente não é mortal”.

Seria bom que os poderosos pudessem ser enfrentados? Seria. Mas seria bom que os fracos, ganhando frequentemente aos mais fortes, se tornassem, eles próprios, em poderosos? Disso, meu caro Alberto, é que eu já me permito ter dúvidas. 

A luta dos “pequenos”, como lhes chama, e são, com o seu dinâmico D. Quixote, até pode ter todas as virtualidades do mundo, mas teria de apoiar-se noutra inteligência, seguir outra estratégia, adotar outra prudência, deixar-se, enfim, comandar por tudo aquilo que faltou e que se chama simplesmente bom senso.

Não vou discutir agora se o alargamento seria, ou será, benéfico ou maligno. Arranjam-se facilmente virtuosos prós e tenebrosos contras para nos pormos no lugar da barricada que mais nos agradar. O que não é possível é contrariar os “poderosos” com a aventura, a irresponsabilidade, o pontapé para frente com que a Liga quis alterar as regras a meio do jogo. Dou um exemplo: um clube com salários em atraso, e são vários, demasiados já, não pagaria mais nada aos jogadores porque, sem os fantasmas da despromoção e da ira dos adeptos, bastaria recorrer aos juniores para entrar em campo e cumprir calendário.

Como Alberto do Rosário, estou farto do “sistema”, dos arranjos, do pantanal. Gostaria de ver surgir novos poderes, com novos protagonistas, novas causas, novas razões – e boas razões. Mas ajudar arrivistas a derrotar “poderosos” só tem uma consequência: aumentar a dor. E para desgraça já basta assim.

 

Alberto do Rosário, que todos os sábados assina, aqui mesmo, “nas minhas costas”, uma coluna de lucidez absoluta, escreve hoje, a propósito da ação “contra corrente” de Mário Figueiredo, na liderança da Liga, que “em Portugal, enfrentar os poderosos raramente não é mortal”.
Seria bom que os poderosos pudessem ser enfrentados? Seria. Mas seria bom que os fracos, ganhando frequentemente aos mais fortes, se tornassem, eles próprios, em poderosos? Disso, meu caro Alberto, é que eu já me permito ter dúvidas. 
A luta dos “pequenos”, como lhes chama, e são, com o seu dinâmico D. Quixote, até pode ter todas as virtualidades do mundo, mas teria de apoiar-se noutra inteligência, seguir outra estratégia, adotar outra prudência, deixar-se, enfim, comandar por tudo aquilo que faltou e que se chama simplesmente bom senso.
Não vou discutir agora se o alargamento seria, ou será, benéfico ou maligno. Arranjam-se facilmente virtuosos prós e tenebrosos contras para nos pormos no lugar da barricada que mais nos agradar. O que não é possível é contrariar os “poderosos” com a aventura, a irresponsabilidade, o pontapé para frente com que a Liga quis alterar as regras a meio do jogo. Dou um exemplo: um clube com salários em atraso, e são vários, demasiados já, não pagaria mais nada aos jogadores porque, sem os fantasmas da despromoção e da ira dos adeptos, bastaria recorrer aos juniores para entrar em campo e cumprir calendário.
Como Alberto do Rosário, estou farto do “sistema”, dos arranjos, do pantanal. Gostaria de ver surgir novos poderes, com novos protagonistas, novas causas, novas razões – e boas razões. Mas ajudar arrivistas a derrotar “poderosos” só tem uma consequência: aumentar a dor. E para desgraça já basta assimAlberto do Rosário, que todos os sábados assina, aqui mesmo, “nas minhas costas”, uma coluna de lucidez absoluta, escreve hoje, a propósito da ação “contra corrente” de Mário Figueiredo, na liderança da Liga, que “em Portugal, enfrentar os poderosos raramente não é mortal”.Seria bom que os poderosos pudessem ser enfrentados? Seria. Mas seria bom que os fracos, ganhando frequentemente aos mais fortes, se tornassem, eles próprios, em poderosos? Disso, meu caro Alberto, é que eu já me permito ter dúvidas. A luta dos “pequenos”, como lhes chama, e são, com o seu dinâmico D. Quixote, até pode ter todas as virtualidades do mundo, mas teria de apoiar-se noutra inteligência, seguir outra estratégia, adotar outra prudência, deixar-se, enfim, comandar por tudo aquilo que faltou e que se chama simplesmente bom senso.Não vou discutir agora se o alargamento seria, ou será, benéfico ou maligno. Arranjam-se facilmente virtuosos prós e tenebrosos contras para nos pormos no lugar da barricada que mais nos agradar. O que não é possível é contrariar os “poderosos” com a aventura, a irresponsabilidade, o pontapé para frente com que a Liga quis alterar as regras a meio do jogo. Dou um exemplo: um clube com salários em atraso, e são vários, demasiados já, não pagaria mais nada aos jogadores porque, sem os fantasmas da despromoção e da ira dos adeptos, bastaria recorrer aos juniores para entrar em campo e cumprir calendário.Como Alberto do Rosário, estou farto do “sistema”, dos arranjos, do pantanal. Gostaria de ver surgir novos poderes, com novos protagonistas, novas causas, novas razões – e boas razões. Mas ajudar arrivistas a derrotar “poderosos” só tem uma consequência: aumentar a dor. E para desgraça já basta assim.

Canto direto, publicado na edição impressa de Record de 17 março 2012

Por Alexandre Pais
Alexandre Pais

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