Ler a “Marca” é, antes de mais, puro prazer. Depois, é uma obrigação para qualquer diretor de um título que se dedique em especial ao desporto ou que lhe dê algum relevo. Finalmente, folhear o diário espanhol é não só formar opinião através da leitura de comentários de alta qualidade, como ter a possibilidade de acompanhar o modo, tão inteligente quanto volátil, como esses comentários vogam ao sabor do único factor que não se pode prever, nem controlar: os resultados.
Cristiano Ronaldo era intocável quando aterrou no Bernabéu e assim permaneceu na primeira época de branco vestido. José Mourinho era um deus quando chegou a Madrid e como tal se manteve até se verificar que não ganhava sempre e que com o Barça perdia mais do que era suposto.As últimas semanas foram particularmente interessantes, até porque os leitores da “Marca” puderam confirmar, restando escassas dúvidas, quais os jornalistas ou colunistas que são a favor ou contra os portugueses… futebolisticamente falando.
A derrota caseira do Real (1-2) frente ao Barcelona, na primeira mão da Taça do Rei, trouxe ao de cima os opinadores acabrunhados com os 5 pontos de avanço que os merengues levam na Liga – apesar dos 3 perdidos no insucesso com o mesmo Barça (1-3), no Bernabéu, em partida da 16.ª jornada. E num trabalho anterior ao jogo da segunda mão, pudemos ver três analistas a indicarem a sua equipa-tipo madridista e a deixarem de fora Cristiano Ronaldo, um contra-senso e uma injustiça, como o último confronto de Camp Nou (2-2) demonstrou – voltando a impor à crítica contestatária mais elogios que azedume.
Vai ser curioso ver como os companheiros da “Marca” irão controlar os seus humores, nos próximos tempos, ora a favor, ora contra a dupla portuguesa – tendo como brinde Pepe, hoje pelas ruas da amargura e por culpa própria – conforme as vitórias se forem sucedendo, as derrotas surgirem, o Barcelona se atravessar e a bola quiser. Sim, porque ela quando entra na baliza arrebata corações e quando bate nos ferros faz destilar o fel. Jornalista não se senta no banco mas também sofre…
Crónica publicada na edição impressa de Record de 28 janeiro 2012