O “Correio da Manhã” e o “Record” são os diários portugueses que maior importância dão ao humor – gosto disso, confesso, embora tenha pouca paciência para graçolas saídas da boca, ou da escrita, de gente desqualificada.
Quando não estou a trabalhar, junto sempre, à compra dos dois títulos da Cofina Media, um outro: o “Público”. Talvez por isso me afete o longo calvário do diário de Belmiro de Azevedo, um destino a que, uma após outra, poucas edições em papel tragicamente escaparão. Quem viver, verá.
Mas esta semana, à notícia de mais meia centena de rescisões de contratos no “Público” – um processo muito doloroso pelo qual “Record” já passou – juntou-se a do encerramento do suplemento “O Inimigo Público”, o mais notável herdeiro de “A Mosca”, destacável do “Diário de Lisboa” em que tive o prazer e o privilégio de colaborar, há precisamente 40 anos, pobre de mim. Vê-lo desaparecer dói-me em particular.
Sei por experiência própria as dificuldades de gestão de um jornal, pelo que não critico decisões administrativas indispensáveis à sobrevivência dos projetos e interrogo-me, mesmo, como aguenta o “Público” ter 130 jornalistas, quando o “Record” tem 80, há mais de dois anos. Enfim, cada um sabe o que vai na sua carruagem.
Mas voltando ao amigo “Inimigo”, a maior desgraça é que o suplemento das sextas-feiras do “Público”, e o seu diretor, Luís Pedro Nunes, fazem-nos hoje tanta falta como, na década de 70, precisávamos da “Mosca” e do seu motor, Luís de Sttau Monteiro. É que os “fascistas” de então são idênticos a alguns dos “democratas” que se instalaram no país, com os seus jogos de poder, as suas teias de interesses, as suas corrupções, o seu nepotismo, o seu despudor.
A crise dá agora a esses malandros nova e relevante ajuda. Cala-se uma das já raras vozes da rebeldia, cai uma tribuna que, ridicularizando-os, os ia despindo na praça pública – e com isso os travava. Corre-lhes bem a vidinha, é o que é.
Canto direto, publicado na edição impressa de Record de 13 outubro 2012