Prisioneira do espartilho que
lhe criaram, compreende-se a dificuldade da RTP: deve ter qualidade em nome do
serviço público, tem de fazer cedências ao “popular” por causa das audiências,
é obrigada a gastar pouco para não agravar o défice – não o do País mas o seu
próprio. É impossível ser prior naquela freguesia.
Não creio que “Bem-vindos a
Beirais” possa integrar-se nos programas que se debatem com esses
condicionalismos, pois a qualidade é escassa e a produção não terá sido barata,
tanta foi a gente necessária para uma centena de episódios de mal amanhada
incursão ao mundo rural.
“Então, estás por cá? É
verdade, hoje apeteceu-me, porquê? Não, é que já não te via há uns tempos. E
deves sentir cá umas saudades… Por acaso, até sinto.” Noventa e cinco por cento
dos diálogos exibem a falta de conteúdo deste, que acabei de inventar. Não
existe trama, não se percebe o que andam as personagens para ali a fazer, os
desempenhos são fracos – não há actores que resistam a textos tão básicos.
“Bem-vindos a Beirais” é mau de mais para ser verdade.
Antena paranoica, publicado na edição impressa do CM de 24 agosto 2013