“Ao homem superior pouco se lhe dá que o elogiem ou censurem, ele não ouve senão a voz da própria consciência” – Napoleão Bonaparte
Beneficiando do fenómeno PRD, Cavaco Silva ganhava as legislativas de Outubro de 1985 e o primeiro-ministro cessante, Mário Soares, candidatava-se à Presidência, para tentar suceder a Ramalho Eanes. Soares passaria à segunda volta com 25% dos votos e ganharia depois a Freitas do Amaral, por escassa margem.
Recordarei até ao fim o derradeiro comício da candidatura vencedora, com o pavilhão da antiga FIL, na capital, repleto de gente e de bandeiras do PS. De repente, o clamor aumentou e todos se voltaram para a galeria, onde surgiam três ou quatro pessoas com bandeiras do… PSD. À frente da microcomitiva, Valentim Loureiro, recebido em autêntico delírio. Fiquei desde então a admirar a coragem de um homem que, com o País dividido ao meio – e o PS também, por causa do apoio repartido por Soares e Salgado Zenha –, ousava desafiar o seu partido para se sentir verdadeiramente livre.
Revivi agora esse momento quando as imagens da TV mostraram Eduardo Barroso, militante do Partido Socialista e, curiosamente, membro do clã Soares, a usar da palavra na campanha de Marcelo Rebelo de Sousa e a felicitar o vencedor no final da noite eleitoral. É certo que o PS deu liberdade de voto aos filiados, mas sabendo-se como funcionam as capelas partidárias, e com o País a atravessar de novo dias de cólera, não terá sido fácil ao dr. Barroso pôr à frente dos interesses políticos que defende o apoio a um amigo que é do PSD. Mas é assim que se conhecem os homens livres, que ouvem a voz da sua consciência e não pensam pela cabeça dos outros.
Parece que foi ontem, Sábado, 4FEV16