Em Agosto de 1988, a capa de uma revista chocou as sensibilidades castrenses da Nação: um modelo feminino sem roupa surgia, desfardado e com material de guerra verdadeiro, à porta de unidades militares de Sintra, Beirolas e Lisboa. Expresso, Tal&Qual e O Diabo, entre outros, deram conta da indignação de altas esferas da tropa e a Élan, a publicação em causa, recebeu telefonemas anónimos ameaçadores, que prometiam até o recurso à bomba (!).
O fotógrafo Rui Castro e o modelo Cristina Freire, de 21 anos, munidos de equipamento autêntico – farda, capacete, bazuca e pente de balas de metralhadora – fornecido por um amigo, instrutor militar que o requisitara no Depósito Militar de Beirolas, procuraram quartéis sem sentinelas à porta de armas, fizeram as fotografias e foram vendê-las à Élan, cujo director, este modesto escriba, as adquiriu sem hesitar.
O desejo de sangue dos ofendidos não foi longe. O instrutor foi absolvido em Tribunal Militar, provado que ficou o seu direito a requerer o material e o facto de o armamento se encontrar desactivado. O Rui limitou-se a explicar como fizera as fotos e eu nem sequer fui chamado.
Em Dezembro de 1989, o semanário O Diabo noticiava a absolvição e alimentava a esperança: “Em tribunal civil vão agora ser julgados o fotógrafo e o director da Élan”. Há dias, ao ver numa revista a produção militarizada com a sensual Daniela Vieira – mais vestidinha e com armas de brincar – lembrei-me que aguardo ainda, em pânico, a ida a juízo.
Parece que foi ontem, Sábado, 23ABR15
As fotos que irritaram a tropa
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