Com a transmissão das primeiras “sessões” é possível fazer o retrato de “Portugal tem talento”, da SIC: um pastelão sem graça. Gravaram-se provas dos “artistas” por atacado – no mesmo programa o júri surge com roupas diferentes –, colocou-se Bárbara Guimarães fora do seu registo e… vamos ver no que dá. Não deu, seguramente, o que se esperava.
Os erros serão três. O primeiro: o formato, que concede tempo de antena a protagonistas do grotesco, sendo o talento uma excepção. O segundo: o casting do júri, formado por profissionais qualificados para tudo menos para enfrentar aquela sopa de alarvidades. O terceiro: a apresentadora, que poderia de alguma maneira “salvar” o programa se fosse ela própria e não tivesse de vestir um fato onde não cabe. Bem, e daí talvez não, já que deu, há dias, uma entrevista a elogiar… o “maridão” – Bárbara dixit.
Mas “Portugal tem talento” cai ainda no pecado de aproveitar uma grave lacuna da lei portuguesa e de permitir a participação de crianças, a quem alguém – que as devia proteger – convenceu do “talento”, e que sofrem depois uma decepção que as marcará para a vida. Não é um mal da SIC, é uma negligência social abençoada pela ditadura das audiências.
Antena paranóica, crónica publicada na edição impressa do Correio da Manhã de 19 fevereiro 2011