No
crescente coro de protestos que se vai opondo aos abusos do Executivo, por
muitas e boas que sejam as razões invocadas, conseguimos perceber, nas mais
diversas circunstâncias, o grau de raiva ou de tolerância dos jornalistas que
elaboram as notícias – pela abordagem, pela adjectivação, pelo tom.
Na
televisão, a percepção torna-se mais clara, e ainda há dias um pivô começou o
serviço noticioso com a seguinte frase: “Os portugueses continuaram hoje,
frente à Assembleia da República, a manifestar-se contra as medidas do
Governo”.
Alto
aí. “Os” portugueses, não. Alguns portugueses, três ou quatro mil no caso, e
com umas dezenas de marginais à mistura, isso sim. Os outros 10 milhões, bem
mais perto de serem considerados “os portugueses”, esses ficaram – ficámos – em casa. Não sabemos até
quando mas ficámos.
Agradeço,
pois, aos meus estimados companheiros, em especial aos que gostam de dizer ou
de escrever “qualquer coisa”, o favor de não me meterem, por enquanto, ao
barulho. Logo que puderem contar comigo, fiquem descansados que eu aviso.
Antena paranóica, publicado na edição impressa do Correio da Manhã de 10 novembro 2012