As rubricas de “vox populi”
têm tradição em Portugal e, tendo começado nos jornais – os antigos vespertinos
eram mestres na área – e alastrado à rádio, acabaram por se instalar na
televisão, onde são hoje recorrentes pela facilidade de execução, baixo custo e
criatividade zero para editores e chefias.
Então agora, com a crise a
apertar e o protesto na ponta das línguas, abusa-se da coisa. O pão tem muito
sal? Ouve-se o público. As rendas vão subir? Ouve-se o público. As farmácias
não fiam? Ouve-se o público. Os combustíveis aumentam? Ouve-se o público. O
pagode pode não entender patavina do tema e não dar uma para a caixa, mas as
câmaras e os estagiários estão lá, sôfregos e veneradores.
Esta semana, retive o caso da
senhora que jurava no café da esquina não poder pagar os 20 e tal euros do
descodificador de TDT, “nem com a ajuda das filhas”, uma das quais, atrás dela,
convocava por telemóvel as amigas para verem em directo o “show” da
progenitora. Como ninguém gosta de pagar o que seja, a receita é fácil: liga-se
a câmara e deixa-se andar.
Antena paranóica, crónica publicada na edição impressa do CM de 14 janeiro 2012