O motivo principal que sempre
me afastou das câmaras de TV é a consciência de que sou, pelo menos em termos
audiovisuais, um medíocre comunicador. E, para asneiras, basta-me o exercício
da escrita e o abuso da paciência do leitor.
É verdade que a necessidade
aguça o engenho e a alguns jornalistas sobra audácia e presunção na intervenção
televisiva, colocando-se desse modo nas mãos da mais traiçoeira das
especialidades: o improviso.
Há dias, um repórter, já
sénior, de uma estação, começava assim o directo: “Estamos na redação de “O”
Record…” E esta semana outro profissional dizia que, há 50 anos, “Espanha
ainda se escrevia com H”!
Pior fez aquele comentador que aproveitou o engano de um jogador português, na ordem da marcação
das grandes penalidades, na última quarta-feira, para o apelidar de “barata tonta”, uma opção de mau
gosto, descabida e que revelava até ignorância, pois a sequência de quem marca,
previamente entregue ao árbitro, não pode ser alterada*.
Também aqui é o que temos,
fruto de errada sementeira e do desinvestimento geral na qualidade.
Antena paranóica, publicado na edição impressa do Correio da Manhã de 30 junho 2012
*Nota
A lei foi alterada, sem que muitos treinadores, jogadores e jornalistas, entre os quais me incluo, se tivessem apercebido. Os árbitros internacionais foram individualmente notificados, mas nós não, claro. A verdade é que o que era obrigatório deixou de ser, pelo que no caso vertente a ignorância é minha. Isso não invalida que continue a considerar de mau gosto e descabida a classificação de “barata tonta”.