O modo como alguma comunicação social tem tratado Silvio Berlusconi é revelador da irresponsabilidade que se instalou na profissão. Um chefe de governo eleito passou a merecer, a certos jornalistas, o mesmo respeito que um ditador que rouba e tortura o seu povo.
Não morro de amores por “il cavaliere” – certamente “di commedia”… – que se põe a jeito para ser notícia pelos piores motivos, mas devíamos colocar limites ao tratamento indecoroso dado a quem subiu ao poder por exclusiva vontade do eleitorado e ter menos contemplações com figuras de repúblicas de bananas que trazemos nas palminhas.
Ao contrário do sentimento que me suscita Berlusconi – já comparado a Mussolini, veja-se o despudor – simpatizo com Otelo Saraiva de Carvalho, sem esquecer os disparates que fez, alguns de extrema gravidade. Mas a ideia de o procurar para apelar a uma nova revolução é um verdadeiro atentado ao regime democrático que o próprio Otelo ajudou a criar.
As baratas tontas do jornalismo são mais uma ameaça com que devemos contar. Como se já houvesse poucas.
Antena paranóica, crónica publicada na edição impressa do CM de 12 novembro 2011