A SIC responde ao “Depois da vida”, da TVI, com “Até à verdade”, perseguindo idêntico objectivo: entreter
espectadores pouco exigentes. Mas o programa da estação de Carnaxide consegue
ser ainda mais triste, já que mexe com crimes, famílias de vítimas, desesperados
que procuram explicações. Na última edição, os dois médiuns contratados, em
plena cena de um assassínio, “pressentiram” uma série de pormenores, uns mais
óbvios que outros, todos sem hipótese de serem comprovados – a inimputabilidade
absoluta.
A parte negra veio a seguir,
no estúdio, com as criaturas a transmitirem à mãe da vítima supostas vontades
do filho, assentes em confidências da própria senhora: que continuasse a fazer
o bolo de iogurte, que retomasse o almoço de Natal, que pusesse ao pescoço o
seu fio de ouro. Só não lograram que o assassinado revelasse o que se
desconhece: quem o matou. Por que não lhe perguntaram?
No final, Moita Flores
escapou habilmente daquela teia, com respostas evasivas que nada adiantaram.
Nem podiam. A verdade não suporta programas de ficção.
Antena paranóica, crónica publicada na edição impressa do Correio da Manhã de 28 janeiro 2012