Alexandre Pais

Antena paranóica: adeus ilusão de uma justiça discreta e fiável

A

A entrevista de Rita Marrafa
de Carvalho à procuradora-adjunta de Beja é um furo jornalístico, ponto. Penetrar no
impenetrável é um feito a que boa parte da classe já renunciou, seduzida pelo
conforto do rabo sentado. Mas interrogo-me sobre o que levará a RTP, e o seu
serviço público, a revolver o porão de um crime bárbaro cujos contornos fariam
a glória de um canal especializado no quanto mais escabroso melhor.

Do que não tenho dúvidas é da
total inutilidade das revelações da magistrada, que não veio doar a sua experiência
à boa causa do esclarecimento e da pedagogia – de que a nossa sociedade tanto
necessita – e se limitou a “aparecer na televisão” para satisfazer a mórbida
curiosidade em torno da criatura que dizimou a família e que queremos
desesperadamente esquecer.

Julgava que uma procuradora
não podia fazer isto ou, podendo, alguém a aconselharia à discrição. Mas não, a
TV já alargou o seu fascínio, pelo que sinto saudades do tempo em que a justiça
parecia um estado dentro do Estado, uma luz na escuridão. Agora, até essa
ilusão nos tiram.

Antena paranóica, publicado na edição em papel do Correio da Manhã de 3 março 2012

Por Alexandre Pais
Alexandre Pais

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