Foi como que um jornal que deixou de se publicar. Talvez por haver perdido a frescura, provavelmente porque a televisão vive de ciclos mais rápidos. Não, com toda a certeza, por deixar de ter razão de ser. A verdade é que o “Contra-Informação” fechou a porta esta semana. Pelo menos na RTP.
Quando o programa se estreou, há 15 anos, o país era outro, as susceptibilidades ainda estavam em franja, os preconceitos eram reis. E foram as verdades que todos trazíamos na boca, assumidas pelos autores do “Contra” e ampliadas pela TV, que atacaram esses demónios e mostraram aos poderosos – e aos farsantes e aos corruptos – que podiam continuar a exercer mas que não contassem mais com a cumplicidade do medo e do silêncio.
Ainda tenho esperança que outra estação possa “pegar” num formato que está longe de se poder considerar “esgotado”, embora a voragem dos “reality-shows” e o recrudescimento da vulgaridade e da tacanhez deixem pouca margem de manobra para um investimento na inteligência.
Para já, resta o que temos: um vazio. E tanto mais preocupante quanto possa ser considerado um sinal de que o humor perdeu para esta insanidade moral que nos manieta como a teia de uma aranha que ignora a piedade e a decência.
Antena paranóica, publicado na edição impressa do Correio da Manhã de 11 dezembro 2011