“Se um homem falhar em conciliar a justiça e a liberdade, então falha em tudo” – Albert Camus, escritor e filósofo francês, 1913-1960
Ministro da Coordenação Interterritorial até Agosto, Almeida Santos assumiu, a 19 de Setembro de 1975, a pasta da Comunicação Social do VI Governo provisório, liderado por Pinheiro de Azevedo. O seu trabalho era terrível, com o País social e politicamente desestabilizado e a comunicação social a funcionar sobre brasas. Após os assaltos à embaixada e ao consulado de Espanha, que foram incendiados, e a pretexto de reivindicações dos Deficientes das Forças Armadas, deu-se a tentativa de sequestro do Governo – com um autocarro da Carris a barrar a entrada da residência oficial de São Bento – e a ocupação da Emissora Nacional e do Palácio Foz, onde Almeida Santos tinha o gabinete a partir do qual moderava conflitos e apagava fogos. Por essa altura, o Presidente Costa Gomes viajava por Polónia e União Soviética – o que me permitiu também escapar, por sete dias, aos ventos da ira revolucionária. Mas tornei-me, para sempre, admirador da arte única de Almeida Santos para o diálogo – mesmo que fosse com a encarnação do diabo.
Homem cordial e conciliador, hábil, respeitado e temido
Trabalhava eu no edifício da CEIG, uma cooperativa do PS ligada às artes gráficas, quando, já no final dos anos 80, se intensificaram as divergências entre os cooperantes que pretendiam desenvolver o projecto e os que não queriam qualquer mudança. Os problemas e os conflitos iam-se agravando até ao dia em que se impunha uma decisão e surgia o homem. Falava então um, argumentava outro e, no final, como Salomão, sem subir o tom de voz e sem nunca ser contestado, Almeida Santos dizia como era – e ponto final na questão.
Parece que foi ontem, Sábado, 28JAN16
Almeida Santos, o apagador de fogos que desapareceu
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