Nunca trabalhei com Alfredo Barroso e lamento, por isso, não ter acompanhado mais de perto o seu trajecto e a sua forte personalidade. Mas conheci-o em 1982 e recordo-me desse tempo com agrado.
Quando se lançou o semanário Off-Side, em Outubro desse ano, a redacção ficou instalada no Dafundo, perto de Lisboa, nas instalações da cooperativa CEIG, fundada por figuras históricas do Partido Socialista.
Na sala ao lado, encontrava-se a redacção de outro semanário, o Acção Socialista, propriedade do PS e hoje dirigido –desde Novembro – por Edite Estrela. Na altura, o seu director era o deputado Alfredo Barroso, que não resistia a entrar no espaço do Off-Side e por lá ficar um pedaço a discutir, com entusiasmo e conhecimento profundo, o fenómeno futebolístico. Curiosamente, o então chefe de redacção do Acção Socialista, Rui Cartaxana, não participava na tertúlia e todos julgámos que não gostava de futebol, até o sabermos nomeado, anos depois, director do Record – veja-se como é a vida.
Desses debates com Alfredo Barroso ficou a ideia, confirmada pelos escritos e comentários posteriores – na SIC, por mais de oito anos, pudemos testemunhar a sua contundência –, de um homem culto e frontal, de um irredutível que se batia duramente por aquilo em que acreditava, que não fazia cedências e a quem era impossível ganhar. A sua saída do PS, há dias, é apenas mais um episódio na vida de alguém que não se dobra, nem se adapta. Alguém que, desgraçadamente, tão mal conheci.
Sobrinho de Maria Barroso e assessor de Mário Soares
Nascido em Roma há 70 anos, Alfredo Barroso é licenciado em Direito. Sobrinho de Maria Barroso, integrou o gabinete de Mário Soares no I Governo Constitucional e foi secretário de Estado da Presidência do Conselho de Ministros no IX Governo, igualmente liderado pelo tio. Acompanhou depois Soares em Belém, como chefe da sua casa civil. Foi jornalista, deputado à AR e analista político. Publicou vários livros e recebeu, entre mais de 20 condecorações, a Grã-Cruz da Ordem Militar de Cristo, em 1996.
Parece que foi ontem, Sábado, 26FEV15
Alfredo Barroso, o irredutível
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