No final de 1973, o empresário Alencastre Telo, autor de canções populares e proprietário da Tipografia Lisbonense, situada na Rua do Passadiço, em Lisboa, decidiu editar uma revista mensal “para promover os artistas portugueses”. Escolheu para directora M. E. Carvalhal Soares e esta convidou Sena Santos, então em A Capital, para formar a redação. O jornalista teve a infeliz ideia de me chamar – talvez por eu coordenar a secção de Cultura/Espectáculos do Diário de Lisboa – e, quase sem dar por isso, acabei em chefe de redação da Alcance, assim se iria designar a nova revista.
Com o primeiro número, lançado em Fevereiro de 1974, começou uma inacreditável luta interna, inconcebível à luz do que são hoje as publicações, entre a linha editorial defendida pelo proprietário e pela diretora, a de promoção dos intérpretes do que se conhecia por nacional-cançonetismo, e a desenvolvida pela redação, tudo malta na casa dos 20 anos, adepta do reviralho, e que apoiava os cantores das baladas revolucionárias.
O 25 de abril caiu em cima do fecho do número três da revista e acabou com o equívoco. Como os resultados das vendas eram maus e o bom do senhor Telo – avô da futura actriz Alexandra Lencastre – se desesperava com o retorno das sobras à tipografia, a redação dividiu-se e eu demiti-me. Ainda saíram, creio, mais duas edições até ao encerramento e tive de esperar estes 40 anos para deixar a Alencastre Telo, onde ele estiver, um mea culpa. Antes e depois de abril, a Alcance não se vendia por um único motivo: não prestava.
Tony de Matos contra os baladeiros
Depois da revolução, o canto livre dominava rádios e TV, deixando sem promoção e sem trabalho os depreciativamente designados nacionais-cançonetistas. Corajoso, Tony de Matos contra-atacava ao dizer à Alcance: “Não reconheço esses senhores como artistas da canção. Ignoro, pura e simplesmente, José Afonso”.
Parece que foi ontem, Sábado, 22MAI14