Se o Ministério Público não recorrer da absolvição, terminou o pesadelo do comandante dos Bombeiros de Pedrógão Grande, a quem o Estado atribuiu, e a outros arguidos, a responsabilidade pela tragédia ocorrida a 17 de junho de 2017 – quando centenas de “fenómenos climáticos extremos” varreram o país – com a morte de dezenas de pessoas na EN 236-1.
Não, na verdade não terá terminado, pois o pesadelo continuará a fazer parte do resto da vida de Augusto Arnaut, que padecerá até ao fim da maior dor de um bombeiro: não conseguir salvar vidas, uma que seja.
Compreende-se a posição do MP, que deve estar do lado das vítimas, minimizando o sofrimento das famílias e dos amigos, tratando que se faça justiça. O que já é mais difícil de entender é o afã de procurar a todo o custo nos bombeiros, nos autarcas e em simples funcionários os culpados pela incúria política de décadas e pelo falhanço coletivo de um combate condenado ao insucesso. Controlar aquele fogo seria para o homem o mesmo que transformar num lago bucólico uma tempestade no alto mar.
Não conheço nenhum dos ora absolvidos e tenho presente a cruel agonia dos que pereceram na estrada da morte. Mas tranquiliza-me que ainda haja ‘juízes em Berlim’.
Antena paranoica, Correio da Manhã, 17set22