Alexandre Pais

Agora já sabemos por que foi o FC Porto contratar Liedson

A

A guerra pela nomeação de Pedro Proença terminava empatada, como o resultado que se verificava a 10 minutos do fim: o árbitro fez o seu trabalho, com alguma habilidade na gestão dos amarelos mas genericamente com a competência que se lhe reconhece. E o FC Porto, a atuar no Dragão, tinha o título perdido.

O que pode fazer um treinador quando o desgaste é já total, o jogo se aproxima do fim, a plateia rói as unhas, a bola não entra na área adversária, o banco parece sem soluções, e falta um golo para salvar uma época e destruir a tese do adjunto que foi uma vez campeão por acaso? Faz o que lhe resta: age por fé.

Foi assim que Vítor Pereira fez avançar Kelvin, o homem do milagre da partida com o Sp. Braga, e logo a seguir meteu Liedson, que tantas vezes resolveu no Sporting e que toda a gente jurava não entender porque raio foi o FC Porto contratá-lo. Enfim, “vão os dois lá para a frente e pode ser que nos safemos”, afirmou Pereira aos seus botões. E deu bingo.

A velha escola portista esteve durante a semana igual a si própria, blindada a contactos com o exterior, com jogadores e técnicos concentrados no objetivo de vencer o Benfica e revalidar praticamente o título. Até Pinto da Costa, o cabo de guerra, se reduziu a uma breve declaração de “apoio” a Pedro Proença, interpretando os sinais do vento favorável, que aconselhavam temperança, e cheirando o fumo da instabilidade criada no reduto do “inimigo” (sim, devia escrever inimigo sem aspas, mas recuso-me a tirá-las) pelo seu empate fatídico, frente ao Estoril, na Luz.

Certo é que o semi-silêncio a Norte não se resumiu à prudência improvável de Pinto da Costa e que Vítor Pereira, revelando, ao contrário do habitual, alguma arrogância no discurso, veio reforçar a “confiança” em Proença e a expetativa de uma atuação eficaz, ou seja, antes de apitares vê o que fazes, não nos desiludas.

A esta estratégia, o Benfica, manietado por declarações antigas de Luís Filipe Vieira contra Pedro Proença, e pela triste designação de “idiota” com que Rui Gomes da Silva mimoseou o árbitro, respondeu fazendo o inverso: utilizando o “open day” imposto pela UEFA e que multiplicou conferências de imprensa, pôs os intervenientes a passarem a mensagem de que o mau resultado obtido contra a turma do excelente Marco Silva não deixara marcas, e que tanto do ponto de vista moral como do físico os encarnados estavam no auge, prontos a riscarem do mapa, em cinco dias, o FC Porto e o Chelsea. “Em poucos clubes do Mundo existe esta abertura”, salientava Jorge Jesus, no apogeu da confiança. 

Bem se esfalfou Vítor Pereira, ao longo do jogo, na pressão sobre o árbitro, uma atividade frenética que apaixonou o realizador da Sport TV, fez voltar ao cinema o “velho” Paulinho Santos, provocou um ataque de nervos a Raul José e levou Proença a conselhos e admoestações. 

Não precisava disso o agitado Pereira. Bastava-lhe ter tirado de cima o inevitável dr. Puga, feito uma paragem para pensar e olhado para trás: a solução não estava em pressionar Proença, estava sentada no banco. Tanto na velha estrela do Levezinho, matreirice de ciência feita, como no talento de um “puto maluco” capaz de fazer, no timing certo e com o opositor adequado, aquele remate repentista e cruzado, incrível e fulminante.

Que pode tanto dar um título, como a deficiente colocação de Artur no lance do primeiro golo portista pode ter feito perdê-lo. Certa é a crucificação de Jesus, que ontem desceu do céu aos infernos.

Contracrónica, publicado na edição impressa de Record de 12 maio 2013 

Aguerra pela nomeação de Pedro Proença terminava empatada, como o resultado que se verificava a 10 minutos do fim: o árbitro fez o seu trabalho, com alguma habilidade na gestão dos amarelos mas genericamente com a competência que se lhe reconhece. E o FC Porto, a atuar no Dragão, tinha o título perdido.
Oque pode fazer um treinador quando o desgaste é já total, o jogo se aproxima do fim, a plateia rói as unhas, a bola não entra na área adversária, o banco parece sem soluções, falta um golo para salvar uma época e destruir a tese do adjunto que foi uma vez campeão por acaso. Faz o que lhe resta: age por fé. Foi assim que Vítor Pereira fez avançar Kelvin, o homem do milagre da partida com o Sp. Braga, e logo a seguir meteu Liedson, que tantas vezes resolveu no Sporting e que toda a gente jurava não entender porque raio foi o FC Porto contratá-lo. Enfim, “vão os dois lá para a frente e pode ser que nos safemos”, afirmou Pereira aos seus botões. E deu bingo.
Avelha escola portista esteve durante a semana igual a si própria, blindada a contactos com o exterior, com jogadores e técnicos concentrados no objetivo de vencer o Benfica e revalidar praticamente o título. Até Pinto da Costa, o cabo de guerra, se reduziu a uma breve declaração de “apoio” a Pedro Proença, interpretando os sinais do vento favorável, que aconselhavam temperança, e cheirando o fumo da instabilidade criada no reduto do “inimigo” (sim, devia escrever inimigo sem aspas, mas recuso-me a tirá-las) pelo seu empate fatídico, frente ao Estoril, na Luz.
Certo é que o semi-silêncio a Norte não se resumiu à prudência improvável de Pinto da Costa e que Vítor Pereira, revelando, ao contrário do habitual, alguma arrogância no discurso, veio reforçar a “confiança” em Proença e a expetativa de uma atuação eficaz, ou seja, antes de apitares vê o que fazes, não nos desiludas.
Aesta estratégia, o Benfica, manietado por declarações antigas de Luís Filipe Vieira contra Pedro Proença, e pela triste designação de “idiota” com que Rui Gomes da Silva mimoseou o árbitro, respondeu fazendo o inverso: utilizando o “open day” imposto pela UEFA e que multiplicou conferências de imprensa, pôs os intervenientes a passarem a mensagem de que o mau resultado obtido contra a turma do excelente Marco Silva não deixara marcas, e que tanto do ponto de vista moral como do físico os encarnados estavam no auge, prontos a riscarem do mapa, em cinco dias, tanto o FC Porto como o Chelsea. “Em poucos clubes do Mundo existe esta abertura”, salientava Jorge Jesus, no apogeu da confiança. 
Bem se esfalfou Vítor Pereira, ao longo do jogo, na pressão sobre o árbitro, uma atividade frenética que apaixonou o realizador da Sport TV, fez voltar ao cinema o “velho” Paulinho Santos, provocou um ataque de nervos a Raul José e levou Proença a conselhos e admoestações. 
Não precisava disso o agitado Pereira. Bastava-lhe ter tirado de cima o inevitável Dr. Puga, feito uma paragem para pensar e olhado para trás: a solução não estava em Proença, estava no banco. Tanto na velha estrela do Levezinho, matreirice de ciência feita, como no talento de um “puto maluco” capaz de fazer, no timing certo e com o opositor adequado, aquele remate repentista e cruzado, incrível e fulminante Que pode tanto dar um título, como a deficiente colocação de Artur no lance do primeiro golo portista pode ter feito perdê-lo. Certa é a crucificação de Jesus, que ontem desceu do céu aos infernos.

 

Por Alexandre Pais
Alexandre Pais

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