Em vésperas de Natal, dirijo os meus pensamentos às vítimas dos grandes incêndios do ano e aos seus familiares. Mas sinto-me igualmente solidário com os bombeiros de Portugal, em especial com os injustiçados, os que deram o seu melhor, com risco da própria vida, e são hoje acusados de negligência e responsabilizados pela morte daqueles a quem não puderam acudir.
Não faltam, nesta altura, imagens fantásticas, candidatas a melhores de 2017, mas eu escolho outras: as do rosto fechado e humilhado do comandante dos Bombeiros Voluntários de Pedrógão Grande quando foi constituído arguido por suspeitas de homicídio e de ofensas corporais. É ele, portanto, o principal bode expiatório do segundo maior incêndio de sempre no país, que teve dezenas ou talvez mesmo centenas de focos resultantes de fenómenos naturais incontroláveis.
Não interessa que os meios sejam desgraçadamente escassos quando a Natureza se torna indomável ou que alguém tenha andado a brincar à proteção civil – há que pôr a culpa no elo mais fraco. O que vale é que ainda há juízes em Portugal e não creio que juiz algum condene um homem que, não conseguindo ter uma mangueira em todo o lado, mais não pôde fazer do que cumprir o seu dever.
Antena paranoica, Correio da Manhã, 23DEZ17
Acusar um bombeiro de homicídio? Ainda há juízes em Portugal
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