O PSG veio buscar Antero Henrique para liderar as duas maiores contratações da história do futebol. O Bayern de Munique, pelo sim pelo não, jogou pelo seguro e acabou com as sestas de Jupp Heynckes no lar da terceira idade. O Manchester City derramou mais umas centenas de milhões de euros em cima dos milhares de milhões já gastos no milénio, na compra de alguns dos melhores jogadores do Planeta. O Manchester United prolongou até 2020 o compromisso com José Mourinho para recuperar de vez a estabilidade perdida com a reforma de Alex Ferguson. E o Barcelona tratou de reequilibrar o plantel após a saída de Neymar e nem precisou de Dembelé, como não precisará de Coutinho, para repor a sua velha hegemonia. Ou seja, enquanto a maioria dos potentados europeus toma decisões profissionais, sabendo da fasquia a que subiram os níveis de competitividade, há outro que assobia para o ar, fiando-se na sorte e nas camisolas. Refiro-me ao Real Madrid, obviamente.
Trata-se, como se sabe, de um clube especial que desprezando, chegada a sua hora ou mesmo antes dela, as maiores estrelas que o serviram, mais depressa ainda põe a andar os treinadores. Foi assim que Carlos Queiroz se queimou, que Benitez não consegue sair da Lua, que Mourinho teve de se afastar para não ficar maluco ou que Carlo Ancelotti, o homem da almejada Décima, uma Liga dos Campeões arrancada a ferros, se viu despachado com a frieza com que Florentino Pérez muda a criadagem. Curiosamente, a paciência com Zidane parece infinita, embora lhe caibam, na aterradora crise que atravessam os madridistas – a 19 pontos do Barça no início da segunda volta! –, as mais claras responsabilidades.
No verão, o treinador assassinou, é o termo, dois sectores de uma equipa que são a chave do seu sucesso. Desde logo, o eixo da defesa. Tendo Varane um histórico de lesões que o deixa às meias épocas na enfermaria e Sergio Ramos um cadastro de cabeça tonta em que se acumulam castigos, Zidane sonhou que um banal Vallejo podia fazer de Pepe, ainda hoje um dos melhores centrais do Mundo. O luso-brasileiro queria um novo contrato de dois anos e só lhe ofereciam um, como se ele não estivesse apto para mais três ou quatro. Burrice pura.
Achando pouco, o técnico francês considerou ter pontas de lança em excesso. E para garantir a titularidade permanente ao compatriota Benzema, cuja cabecinha é também o que sabemos, livrou-o, de uma assentada, de dois concorrentes: Morata, que seguiu para o Chelsea, e Mariano, que brilha agora em Lyon. Conclusão: como Benzema não se sente pressionado, entra em campo já em estado de sonolência. E é com esses dois pecados mortais e um plantel forte unicamente na linha média, que Florentino e Zidane, com tiques de amadorismo, se propõem enfrentar o PSG e o quarteto letal formado por Neymar, Mbappé, Cavani e Di María. A 14 de fevereiro, e oxalá me engane, após mais uma humilhação, tenham cuidado: podem ter de alugar um helicóptero para sair do Bernabéu.
Outra vez segunda-feira, Record, 29JAN18
A tragédia madridista e os seus autores
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